Medo
Não conheço os mecanismos neurológicos que deflagram o medo. Componente perversa na vida do dia a dia, nem tudo no medo é negativo. É graças ao medo que reagimos às situações de perigo e nos acautelamos contra o que possa colocar a segurança em risco. Não ter medo é tão perigoso quanto tê-lo em excesso. O medo é paralisante e tem como resultado mais deletério a chamada quebra da assertividade.
Acuado, o medroso transpira, gagueja, hesita, tartamudeia, enrubesce, hiperventila, negaceia, contradiz-se, tergiversa, escamoteia e cede em escala desproporcional. Um alto dirigente sob o impacto do medo é refém do interlocutor cujas pupilas parecem segredar: "Cuidado, posso acabar com sua imagem pública em minutos. A um comando codificado, as redes sociais do mundo vão mostrar quem você é".
Se você é prefeito de uma pequena cidade e cometeu pecadilhos com dinheiro público para favorecer uma empresa encarregada da varrição das ruas, por exemplo, o quadro já é constrangedor o suficiente para que você evite tratar do tema e fuja dos que sabem algo a respeito. Se encontra uma pessoa envolvida numa festa de casamento, é possível que vá fumar um cigarro no jardim para evitar uma simples troca de olhares.
Um subproduto do medo se traduz numa das palavras mais feias em qualquer língua que seja dita: chantagem. Até em inglês ela tem uma conotação sinistra: "blackmail", uma espécie de "correio negro". Quem tem medo, pode estar sob severa chantagem, o que potencializa falhas de caráter e magnifica a falta de aptidão para a liderança, que passa pela virtude. É claro que a essa altura vocês devem imaginar de quem estou falando: Trump.
Vendo-o tentar desdizer o que disse em Helsinque, Finlândia, na presença aterradora (para ele) de Vladimir Vladimirovitch Putin, perdura a sensação já palpável para meio mundo de que o presidente americano morre de medo do presidente russo. Nada, além disso, justificaria um desmentido tão patético do fato de que a Rússia teria influenciado (ou não) a última eleição para a Casa Branca, fato que negou a metros do ex-KGB um dia antes.
Trump tem medo. E muito. E Putin tem uma carta tão forte que equivale a uma arma de dissuasão poderosa. Como uma bomba atômica, ela não precisa ser usada. Basta que um lado saiba que o outro a possui. No dia que ela vier a público, e isso talvez leve muitos anos, a História poderá se debruçar sobre os terríveis bastidores que permearam a relação dos Estados Unidos com o mundo, especialmente com o grande contendor da Guerra Fria.
O que será? Será que a versão que você conhece é a mesma que eu imagino? De um inquilino da Casa Branca apavorado, amigos, tudo pode se esperar.
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