Intenção de consumo cai pela primeira vez desde junho

Indicador reflete cautela das famílias diante de cenário econômico
Além da redução do poder de compra, o encarecimento do crédito também afetou o item de perspectiva de consumo

Após quatro meses consecutivos de alta e estabilidade em outubro, o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apresentou retração em novembro. Com queda mensal de 0,9%, o indicador registrou 73,4 pontos, permanecendo abaixo do nível de satisfação, de 100 pontos, algo que vem acontecendo desde abril de 2015. Apesar disso, o nível é o maior da série desde março de 2021 (73,8 pontos) e melhor do que o registrado em novembro de 2020 (69,8). Na comparação anual, o indicador apresentou uma elevação de 5,1%, mantendo a tendência positiva dos meses anteriores.

Entre os itens avaliados pela pesquisa, o emprego atual se destacou como a única taxa positiva mensal, apresentando crescimento de 0,2% e de 6,2%, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Acompanhando essa recuperação, o patamar atingido pelo item (92,2 pontos) o manteve como o maior indicador do levantamento em novembro, sendo também o maior nível desde maio de 2020 (101,7 pontos).

Mesmo com a melhora da percepção do mercado de trabalho, as famílias mostraram atenção no tocante ao consumo. O item de acesso ao crédito obteve a segunda queda consecutiva, de 2,3%, apresentando a maior taxa negativa do mês. A CNC avalia que esse recuo foi influenciado pela trajetória de alta dos juros, iniciada pelo Banco Central para conter o aumento dos preços.

Além da redução do poder de compra, o encarecimento do crédito também afetou o item de perspectiva de consumo, que manteve o resultado negativo do mês anterior, registrando queda de 1,5%. A economista responsável pela pesquisa, Catarina Carneiro da Silva, explica que isso ocorre porque o crédito é um artifício utilizado pelos consumidores para aumentar suas rendas e tentar manter o padrão de consumo. "A incerteza quanto ao tempo necessário para abrandar o processo inflacionário e o nível que os juros devem alcançar para conseguir o objetivo já estão influenciando no momento de consumir e gerando maior cautela", afirma.

Na edição de novembro, o estudo apresentou destaques por região. Segundo os recortes, o Norte apresentou queda na variação anual na maioria dos indicadores, sendo o índice do momento para compra de duráveis (+13,9%) a única exceção. O item, por outro lado, foi o único a registrar retração na região Sudeste (-16,7%). Na comparação com 2020, outras regiões também contaram com retração em apenas um dos itens avaliados. O Sul, por exemplo, encolheu 6,3% em acesso ao crédito.

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