Recuperação da economia em 2022 ainda deve ser lenta

Fecomércio-RS espera que a inflação arrefeça somente no último trimestre
Para o consultor econômico da Fecomércio-RS, Marcelo Portugal, há cinco pilares principais para serem observados: câmbio, atividade econômica, inflação, juros e contas públicas

É sabido que o setor terciário privado foi um dos mais impactados pelo isolamento. Embora tenha apresentado uma retomada nos últimos meses, ainda há muito o que fazer. Com a inflação acelerada, juros elevados e um difícil cenário eleitoral, 2022 se projeta como um ano de lento crescimento econômico e com possíveis melhorias, como a queda da inflação, somente no último trimestre.

Esse foi o cenário previsto pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) em sua coletiva de balanço e perspectivas para 2022. Para o consultor econômico da entidade, Marcelo Portugal, há cinco pilares principais para serem observados: câmbio, atividade econômica, inflação, juros e contas públicas. Confira as principais previsões ao final desta reportagem.

Depois da crise sanitária gerada pela Covid-19, a taxa de câmbio apresentou um comportamento diferente do usual. "Em crises o câmbio normalmente desvaloriza, mas, passado algum tempo, geralmente volta. A primeira característica dessa crise é que, dessa vez, o câmbio não voltou. Tivemos uma desvalorização cambial e ela continuou até agora", explica Portugal. A perspectiva da Fecomércio-RS é que ele continue relativamente desvalorizado até o final do ano que vem, um dos fatores que contribuem para que a inflação se mantenha elevada.

Apesar da elevação dos juros no Brasil, que normalmente ajuda a puxar o câmbio para baixo – "quando o juro fica mais alto, é mais rentável aplicar no Brasil, então vem um fluxo de capital do exterior para cá", detalha Portugal –, a expectativa é que dessa vez isso não aconteça em decorrência da incerteza fiscal e eleitoral.

Atividade econômica
Segundo Portugal, a forte expansão fiscal e monetária aplicada pelo governo conseguiu fazer o PIB se recuperar em V, mas estagnar ao voltar ao patamar anterior. Além disso, a recuperação se deu com heterogeneidade, isto é, com segmentos superaquecidos enquanto outros seguem em recessão.

Outro ponto é que o consumo das famílias se recuperou mais lentamente que o PIB. "As pessoas estão com menos dinheiro no bolso, e isso significa um volume de gastos em consumo relativamente menor do que o que esperaríamos quando olhamos o PIB como um todo", observa Portugal. Embora exista a recuperação dos empregos, o salário médio vem sendo menor do que o anterior.

Dada a incerteza eleitoral, o não crescimento da massa de salários e o juro subindo, a perspectiva de crescimento para o PIB é menor do que o ritmo do período anterior, entre 2016-2019, quando cresceu 1,4%. Para o ano que vem, a expectativa é de 0,9%. "Um dos motivos para o pessimismo é que ainda temos uma grande desorganização produtiva na economia", avalia o consultor econômico.

Segundo a FGV, depois da pandemia, o número de empresas que relatam não ter o nível de estoque que gostariam para atender os clientes subiu para 20%, frente a apenas 5,1% em 2019. "Cerca de um quinto das lojas estão com dificuldade de crescer e produzir devido à desorganização e não encontrar produtos e peças para produzir e vender", conclui.

Inflação
O mundo inteiro está com uma inflação elevada. A Alemanha, nos últimos meses, atingiu 6%, maior taxa de inflação do século 21 no país; nos EUA, chega a 6,2%, a maior dos últimos 31 anos; nos países da Zona do Euro, a inflação é de quase 5%, a maior dos últimos 25 anos. "No caso brasileiro, existem determinados fatores específicos, em especial a falta d'água que fez com que tivéssemos que aumentar barbaramente o preço da energia elétrica", lista Portugal.

Mas, segundo ele, também há fenômenos gerais que contribuem para o cenário: a desorganização produtiva gerada pelo lockdown e quarentena, gargalos e mudanças bruscas nos padrões de consumos [menos busca por serviços e mais por bens, sendo que a indústria que produz bens não estava preparada], por exemplo.

"Se nossa previsão estiver correta, corremos o risco de estourar a meta de inflação no ano que vem, que é 3,5 com uma tolerância de 1.5. O teto é 5% e nossa projeção é 5,1%", alerta. A redução da bandeira de crise hídrica pode fazer com que a energia barateie, mas a previsão é que isso aconteça apenas no segundo semestre.

Para a Fecomércio-RS, os juros continuarão a subir e a melhor estratégia seria acelerar novamente o ritmo de elevação. "A discussão é de ritmo, e não se vai ou não subir. Que vai subir já é certo", garante Portugal. A expectativa é que, nos próximos meses, suba a um juro da ordem de 12%.

A dificuldade em manter o teto de gastos ainda atrapalha a expectativa fiscal para 2022 e 2023, com resultados negativos de elevação de câmbio e de Selic. "Se a gente olha no curto prazo, a arrecadação de impostos nos últimos meses teve um resultado excelente no Brasil. Meu chute é que vamos arrecadar R$ 5 bilhões a mais do que no ano passado, quase R$ 2 trilhões", elogia. A má notícia é daqui para a frente: o que vai acontecer com a eleição e o arcabouço fiscal agora que é sabido que é possível mexer no teto de gastos. 

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Domingo, 24 Novembro 2024

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