Vinicultor nos EUA revela o custo de produzir a bebida
A Bloomberg trouxe uma história interessante no início deste ano. A publicação especializada em finanças contou a história de Mark Tarlov, vinicultor estabelecido no Vale de Willamette, no Oregon (EUA). No último trimestre de 2015, ele começou a fazer o levantamento dos custos que tinha para fabricar a bebida e dividiu o total por garrafa. Por fim, calculou um preço final obtendo margem de lucro de 45%. Depois decidiu criar um site que usaria para vender o vinho – e também mostrar todos os custos envolvidos. Tarlov talvez seja o único vinicultor do mundo que revela aos clientes exatamente as razões pelas quais cobra determinado preço.
O pequeno lote de Pinot Nnoir, chamado Alit, é vendido por US$ 27,45 a garrafa. Pelos cálculos do vinicultor, o barril custa US$ 1,1 por unidade. O cultivo e a colheita absorvem outros US$ 5,66. E a embalagem, caixas especiais de papelão para entrega que não exigem proteção extra, custa US$ 2,88 (veja lista completa na tabela a seguir). O vinho é vendido diretamente aos consumidores – assim como muitos outros. O que realmente o diferencia é a maneira pela qual é precificado. O valor da maioria dos vinhos é fixado de acordo com a qualidade e com o tipo de cliente que a vinícola deseja atingir – e não com base no custo das garrafas ou dos barris, por exemplo. O preço, como sabemos, é ditado pela marca. No entanto, Tarlov está fazendo justamente o oposto.
Fases de produção | Custo (US$) |
Cultivo e colheita | 5,66 |
Funcionários | 2,14 |
Equipamentos da vinícola | 3,31 |
Barris de carvalho francês | 1,11 |
Engarrafamento, rótulo e caixa | 2,88 |
Custo total | 15,10 |
Margem (45%) | 12,35 |
Preço final* | 27,45 |
*Não inclui frete |
O modelo de negócios de cálculos transparentes foi adotado em outros setores de varejo. “A marca Everlane construiu um império no segmento de vestuário ao se dirigir diretamente a clientes na internet para detalhar custos de materiais, transportes e taxas para cada peça. Para alguns itens, a empresa até permite que os clientes escolham o preço, e o menor preço não proporciona nenhum tipo de lucro. A ideia também se espalhou entre outras start-ups, como a fabricante de bolsas Oliver Cabell. O que está nas entrelinhas: os intermediários estão sendo eliminados e tanto os criadores quanto os consumidores estão recebendo mais pelo dinheiro que investem e gastam”, afirma a publicação.
Praticamente todo vinicultor do mundo vende diretamente aos consumidores, mas normalmente eles dão justificativas por venderem pelos mesmos preços das lojas de varejo. Assim, não prejudicam seus parceiros no atacado e também embolsam ganhos significativos. Os distribuidores e varejistas que vendem outros vinhos de Tarlov ainda não fizeram nenhum tipo de retaliação, pelo menos por enquanto. "Mas soou o alarme e irá soar ainda mais alto. Mas eu adoraria ser aquele que irá destruir o meu próprio negócio", afirmou Tarlov para a Bloomberg.
Há quem diga que fabricar uma garrafa de um vinho simples no Brasil não custa mais que R$ 2, R$ 3, quem sabe R$ 4. E o rótulo é vendido na gôndola por até R$ 18. Naturalmente que metade desse preço final é engolido pelos impostos cobrados em cascata ao longo de toda cadeia produtiva. Apenas por esse fator, o preço da bebida poderia ser muito mais em conta – o que facilitaria a multiplicação do hábito do consumo diário. Mas quem, aqui no Brasil, teria tamanha coragem em revelar em detalhes o custo da produção? O desafio está lançado. E o Cepas & Cifras, é claro, abrirá espaço para o empresário que quiser apresentar seus números com toda a transparência.
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