A China rural não existe mais
A China iniciou no dia 1º de janeiro o seu terceiro Censo Agrícola. O objetivo é levantar todas as informações das 3 milhões de empresas e 200 milhões de famílias de agricultores. Todos responsáveis pela produção de 600 milhões de toneladas de grãos, mais algumas centenas de milhões de toneladas de frutas, verduras, peixes, suínos, frangos, bovinos, caprinos, ovinos, leite, ovos etc. Contando com um time de 5 milhões de entrevistadores – que trabalharão em mais da metade do país sob temperaturas próximas de zero –, para cobrirem os 120 milhões de hectares cultivados e os mais de 200 milhões de hectares de pastagens, a previsão é que concluam o trabalho em março.
Com o ingresso da China no Programa Mundial de Censos Agrícolas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 1987, foi criado o Centro de Estatísticas de Alimentos e Agricultura, em Beijing e em 32 províncias e regiões autônomas. Assim, 12 mil estatísticos chineses foram preparados para utilizar a metodologia da instituição. Essas iniciativas permitiram ao país realizar o seu primeiro Censo Agrícola em 1996, o que tornou as estatísticas globais sobre produção, comércio e consumo de alimentos mais confiáveis e uniformes, o que é decisivo para o planejamento do setor.
Os números iniciais desse imenso e complexo levantamento nacional deverão ser conhecidos até maio, confirmando o que se sabe há alguns anos: a China rural não existe mais. Não pelo menos como era, pois a migração rural-urbana acelerada, desde o final dos anos 1970, quando quase 90% da população chinesa vivia no campo, deixou no interior da China 57% da sua população total em 2006 (2º Censo), e 47% atualmente. E até 2030, mantido esse ritmo migratório, a população rural deverá cair para 35%.
Em 1996, a China era considerada uma economia essencialmente agrícola, com 214 milhões de famílias de agricultores em 740 mil aldeias. A população economicamente ativa (PEA) agrícola de 561 milhões de pessoas, equivalentes na época a 80% da PEA total de 700 milhões. Nesses 20 anos, o governo chinês aboliu os impostos agrícolas, criou subsídios e definiu preços mínimos para cereais e preços máximos para fertilizantes, esforço contínuo para elevar a renda dos produtores rurais (a média nacional per capita era de US$ 345, contra US$ 4 mil em Shanghai) e manter a soberania alimentar, garantida com a produção de 95% do consumo de cada produto agrícola.
Mas continuarão aumentando as importações agrícolas nos próximos anos, apesar dos esforços dos governos, empresários e agricultores familiares chineses. É que o ritmo de crescimento do consumo de alimentos na China tem-se mantido acima do da produção, graças ao contínuo aumento do poder aquisitivo da população e à diminuição da PEA agrícola e das áreas agricultáveis para novas áreas urbanas. Até porque a mudança do modelo de crescimento econômico, de exportações para o consumo interno, anunciada no 12º Plano Quinquenal e mantida no 13º Plano (2016/2020), continuará elevando e diversificando as demandas alimentares do país mais populoso do mundo – o que é ótimo para as exportações do agronegócio brasileiro.
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