“Legalizamos o abuso dos dados pessoais”, critica Snowden

Persona non grata nos Estados Unidos após denunciar um esquema confidencial de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward Snowden (foto) fugiu para a Rússia em 2013. Seis anos depois, o ex-agente acusado de espionagem participou da abe...
“Legalizamos o abuso dos dados pessoais”, critica Snowden

Persona non grata nos Estados Unidos após denunciar um esquema confidencial de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward Snowden (foto) fugiu para a Rússia em 2013. Seis anos depois, o ex-agente acusado de espionagem participou da abertura da Web Summit Lisboa nesta segunda-feira (4) para falar sobre privacidade – não apenas no âmbito governamental, mas principalmente para empresas privadas. Por uma videoconferência desde Moscou, ele criticou aquilo que chamou de “criação de um novo arquivo público” por companhias como Facebook e Google.

“Legalizamos o abuso de dados pessoais. Isso torna a população vulnerável”, apontou Snowden. Isso, segundo ele, causa um problema democrático, quando “a lei e os direitos não importam mais”. “O que você pode fazer quando as maiores instituições se tornam as que menos prestam contas?”, perguntou, destacando que essa é a principal questão que as novas gerações precisam responder. “Não são os dados que são manipulados, são as pessoas.”

A localização exata de Snowden é um mistério. Para evitar qualquer chance de indicar seu paradeiro, o cenário da videoconferência contou com um pano de fundo preto e luz chapada. Mesmo assim, o ex-agente disse que “precisa falar com o mundo”, sobretudo para o perfil do público da Web Summit – composto por empreendedores e executivos relacionados ao mundo da tecnologia. “Quando o governo faz algo por trás dos panos, acredito que o público tem o direito de saber”, disse. Ele, no entanto, limitou suas críticas a empresas e instituições norte-americanas, sem mencionar as constantes denúncias de abusos praticados na Rússia.

Com a evolução da tecnologia, muitos países – como o Brasil – estão criando legislações sobre proteção de dados. Mas Snowden indicou uma distorção comum nas leis. “Regulamentar o uso de dados presume que coletá-los não é um problema, desde que eles nunca vazem, desde que o controle seja do próprio governo. Isso não está certo”, apontou, salientando que, desde que tornou públicas suas acusações, foi possível mostrar que “tudo vaza”.

O futuro previsto pelo exilado norte-americano, no entanto, parece um pouco mais otimista. Segundo ele, “a tecnologia amplifica o poder individual”. “Quando temos novas ferramentas sendo usadas por pequenas companhias e organizações não-governamentais, começamos a nos mover em direção a um mundo melhor e mais livre”, apontou. 

A introdução de Snowden foi feita pelo CEO e co-fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave. O evento criado pelo empreendedor irlandês ocorre pelo quarto ano consecutivo na capital portuguesa. Até quinta-feira (7), serão 1,2 mil palestras nos 22 palcos espalhados pela Altice Arena. Além das conferências, mais de 2 mil startups terão a chance de se conectar a cerca de 1.200 investidores e parceiros. Fintechs, indústrias de software e soluções de inteligência artificial são alguns dos setores com maior representatividade no encontro.

 *O Grupo AMANHÃ está presente em mais uma edição da Web Summit. A curadoria da cobertura tem a assinatura da BriviaDez, que promove uma missão ao evento.

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