A pandemia acena como um caminho aberto para fraudadores
Vêm sendo comuns as notícias de possíveis casos de fraudes ou crimes econômicos cometidos por empresas e administrações públicas desde que a pandemia da Covid-19 começou. Em vários estados brasileiros foram deflagradas práticas de uso indevido de recursos seja em forma de contratos, compras, desvios, entre outros.
A Pesquisa Global sobre Fraudes e Crimes Econômicos 2020, da PwC, confirma esta terrível tendência. O estudo revelou que 47% das empresas participantes foram vítimas de fraudes nos 24 meses anteriores ao campo. E pior: esse percentual tende a aumentar significativamente. Quando as pressões sobre as pessoas, as empresas e a economia aumentam, os fraudadores se sentem motivados a agir. Perturbações nos processos de negócios, nos controles e nas condições de trabalho normais criam oportunidades para que se cometam fraudes. Nesse sentido, a pandemia, inesperada pela maioria, acenou como um caminho aberto para fraudadores. O caos e a incerteza promovidos pela crise levam muitas pessoas a justificarem maus comportamentos que, em outras situações, teriam sido reprimidos.
Ao se concentrarem na estabilização de seus negócios, os líderes devem analisar como a fraude pode penetrar seus ecossistemas. Elaborar estratégias de preparação para a disrupção que esses incidentes trazem para as empresas as condiciona a se fortalecerem diante da crise. Há, contudo, procedimentos que podem ser adotados pelas corporações de maneira a melhor se organizarem contra fraudes em tempos de Covid-19. A começar por preparem-se para um período prolongado de trabalho remoto, assimilando uma base sólida de segurança e privacidade para poder se concentrar em manter operações essenciais da empresa e mitigar a exposição a problemas de conformidade.
Essa solução também passa pela educação da força de trabalho sobre as ameaças. Um número levantado pela PwC sobre este tema fala por si próprio: quase metade (43%) dos incidentes que causaram prejuízos acima de US$ 100 milhões foram cometidos por pessoas de dentro das empresas. Além da equipe interna, outros stakeholders também são fundamentais neste processo. Conselho, acionistas, parceiros de negócios, fornecedores, terceiros, reguladores e o público em geral devem estar cientes de riscos percebidos, estratégias de prevenção e planos de contingência para não se transformarem num ponto de vulnerabilidade. Porém, justamente este público pode ser um ponto fraco. A pesquisa sobre fraudes e crimes constatou que um em cada cinco participantes citou fornecedores como a origem da fraude externa mais grave de que foi vítima.
Por fim, outro item a se considerar é aquilo que é essencial a qualquer empresa sujeita a fraudes: detectá-las. Se a tecnologia é uma porta de entrada para atos ilícitos, também pode ser uma aliada. Fraudes de natureza transacional – como as cometidas por clientes, os ataques cibernéticos e os roubos de ativos – podem ser capturadas por tecnologias que utilizam análises avançadas.
As mudanças nos padrões transacionais observadas durante a pandemia de Covid-19, como a transição para o comércio eletrônico, também significam que os modelos de detecção de fraude existentes podem precisar de uma recalibração para se adaptarem ao "novo normal". Seja nas relações de trabalho, no meio privado ou público, o fato é que há mudanças que vieram para ficar e, com elas, a inevitável maior atenção a práticas indevidas. Esses ajustes, contudo, podem aumentar a eficácia do programa de detecção de fraude de modo a que a vida da empresa se mantenha saudável e longe de infrações comprometedoras.
*Diretor da PwC Brasil
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