Março quente na China
A primavera na China promete ser quente, muito quente, graças às "Duas Sessões", os eventos anuais da Assembleia Popular Nacional (APN), e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), que tradicionalmente exteriorizam para o mundo as grandes decisões políticas e econômicas de Estado no país para os próximos anos. E o mundo inteiro está de olho nesses dois grandes eventos, pois a China é hoje a segunda maior economia, pela paridade cambial, o segundo maior importador, e o maior exportador mundiais – além de ser o maior parceiro comercial do Brasil e de dezenas de outros países da América Latina e da África. E também pelo "frisson" gerado pelos soluços das Bolsas chinesas no início de 2016 e pela "grande queda" do PIB chinês em 2015.
O maior destaque nas "Duas Sessões" é a aprovação do 13º Plano Quinquenal (2016/2020). Ele indicará por quais caminhos a China seguirá no período, na marcha pelo desenvolvimento econômico, cujos objetivos principais já são conhecidos: aumentar a igualdade social e econômica, proporcionando mais acesso aos seus benefícios para as populações das áreas rurais e do imenso interior do país (o que significa dizer que pretendem tirar da pobreza 70 milhões de pessoas até 2020); continuar a expansão do consumo doméstico, iniciado no 12º Plano, o que inclui ampliar o ainda embrionário sistema de previdência; continuar reduzindo o peso das exportações no crescimento econômico; ampliar o esforço para continuar a diminuir o impacto ambiental das termelétricas, veículos movidos a diesel e gasolina, construções e indústrias poluentes.
Provavelmente, abarcará ainda manter o crescimento do PIB nos atuais 7% ao ano; assegurar a geração anual de 10 milhões de empregos; continuar investindo pesado em energia solar, eólica e de biomassa, para reduzir o peso do carvão (65% em média) na matriz energética chinesa, e em infraestrutura de transportes, principalmente na expansão da malha ferroviária de alta velocidade.
A situação negativa da economia mundial afeta significativamente a China, em função do peso do seu comércio exterior no PIB. Ano passado, por exemplo, o país perdeu US$ 512,7 bilhões de reservas cambiais, caindo para US$ 3,3 trilhões no início de 2016 – ainda o maior volume de reservas cambiais do mundo. Essa pulverização dos ativos financeiros chineses tem um "lado bom" para o Brasil: a China continuará, e talvez até ampliará, os investimentos em ativos reais, produtivos, como os anunciados pelo primeiro-ministro em sua visita em maio do ano passado.
Sabe-se que haverá também novidades interessantes nesse 13º Plano Quinquenal, relacionadas às atividades comerciais através da Internet, e aos conceitos de "made in China" e de "Mercado Comum", e à defesa militar. Os planejadores chineses demonstram assim estarem sintonizados com a revolução digital, com as estratégias comerciais e políticas da Alemanha, da Rússia, e dos Estados Unidos – que podem "endurecer" as relações com o país, de acordo com o resultado das eleições para presidente em novembro – e com o aumento da beligerância mundial.
Ao mesmo tempo em que discute a criação de "comunidade de destino comum" em três níveis (países vizinhos, Ásia e Humanidade), a China não descuida da necessidade de mostrar-se preparada para reagir à altura em caso de agressões: está realizando reforma militar estratégica, considerada a maior nos últimos 65 anos(!), que incluem a modernização total de suas forças armadas e a criação de cinco zonas militares de combate.
Veja mais notícias sobre Mundo.
Comentários: