Indústria catarinense lamenta perda de Elias Seleme Neto

Seu legado é de trabalho, ousadia e persistência, destaca Fiesc
Seleme continuou sua rotina de visitar periodicamente as empresas da família até meados de 2020


Morreu na manhã desta quarta-feira (22), em Caçador (SC), o industrial Elias Seleme Neto, o patriarca de uma família de empreendedores com atuação nos ramos de couro, calçados, madeira, pecuária, reflorestamento, construção civil e comércio de materiais de construção em diversos estados do país. Pai do primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Gilberto Seleme, Elias era comendador da Ordem do Mérito Industrial da CNI (outorgada em 2004) e da Ordem do Mérito Industrial de Santa Catarina – concedida pela FIESC, no ano 2000.

"Elias Seleme Neto é um daqueles industriais corajosos que souberam construir o seu destino e que nos inspiram a superar todos os obstáculos, perseguindo a excelência, sem se deixar abater pelas adversidades. Assim, impulsionou o desenvolvimento econômico e social", destaca o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, em nota de pesar. "A indústria catarinense sente profundamente esta perda e se solidariza com familiares e amigos. Mas é importante destacar que os ensinamentos e, principalmente, o exemplo deixado são perenes e constituem um paradigma de empreendedorismo que seguirá frutificando e influenciará gerações de empresários catarinenses", completa Aguiar.

Elias Seleme nasceu em 19 de julho de 1925, em Canoinhas, no norte catarinense. Aos 16 anos, se transferiu para Curitiba, onde prestou o serviço militar obrigatório, durante a Segunda Guerra Mundial. Conforme seu depoimento de 2015 ao projeto Histórias da Indústria, da Fiesc, ele ingressou no Banco Nacional do Comércio, como carteiro. "Meu pai, de poucas possibilidades de me manter em Curitiba, disse 'olha, você venha para Canoinhas, que tem um concurso aqui, emprego bom e tal'". Na mesma década, já em 1947, Elias se transferiu para Caçador, como contador do banco e quatro anos depois, o gerente, que estava se transferindo para Ponta Grossa (PR), indicou Seleme para substituí-lo.

As atividades empresariais de Elias Seleme se iniciaram em 1958, quando deixou o Banco de Comércio para entrar no setor madeireiro. Uma virada importante na sua vida empresarial ocorreu em 1975, com a morte de seu sócio Vitório Poleto. Na divisão do patrimônio, coube a Seleme também o curtume, então denominado Indústrias Berger, que tinha na época em torno de 300 funcionários e estava com dificuldades financeiras. Como forma de homenagear o antigo sócio, Seleme renomeou a empresa como Viposa, um anagrama de "Vitório Poleto S/A". Na nova atividade, Seleme optou por vender uma fazenda para investir no curtume – e não no setor madeireiro, no qual tinha mais experiência. "Seis meses depois, saiu um decreto do governo federal proibindo o corte de imbuia e pinheiro. Não sou um homem de sorte? [risos]".

Atualmente as empresas do Grupo Seleme geram em torno de 1,5 mil empregos diretos em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Rondônia. O curtume fabrica e fornece ao mercado nacional e internacional couro curtido e couro acabado. No vídeo, ele não deixou de demonstrar o orgulho por uma das características que sempre buscou imprimir nos negócios e que transferiu como herança aos descendentes. "A mercadoria que sai daqui não volta, é de qualidade", destacou.

Elias Seleme Neto não nasceu em Caçador, mas adotou a cidade como sendo sua ao longo de quase 80 anos em que nela viveu. Lá presidiu a Associação Comercial e Industrial, o Hospital Jonas Ramos (então o único existente no município) e a primeira Universidade – a Fundação Educacional do Alto Vale do Rio do Peixe (Fearpe), que mais tarde se tornaria Universidade do Contestado (UNC) e depois Universidade do Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp). Por fim, a cidade adotou oficialmente o empresário, com a concessão do título de cidadão honorário. "Foi uma surpresa e uma honra", disse Elias Seleme ao projeto Histórias da Indústria.

No depoimento, em que fez um balanço de sua trajetória, Elias Seleme Neto, demonstrou que não quis levar uma vida pacata; queria mais intensidade. "Quando eu saí de casa, meu pai disse, 'olha, meu filho, se você ganha mil reais, procure guardar 100 reais. Porquê? Porque você vive tão bem com mil reais quanto com 900 reais. E eu fiz isso, porque senão eu ia me aposentar como bancário, levar os netos pra escola [risos]". Por fim, ele destacou sua paixão pelo trabalho. "Todos nós devemos olhar para frente. Em primeiro lugar ter fé. Eu acho que a gente com os anos se apaixona pelo trabalho. Eu também vou quase que diariamente na madeireira, na construtora, acompanhar o trabalho dos filhos. Eu acho que isso aí faz parte de uma paixão, né?".

Seleme continuou sua rotina de visitar periodicamente as empresas da família até meados de 2020. Viúvo de Nelli Mocellin Seleme (falecida em 2005), Elias deixa os filhos Fernando, Gilberto, Marcelo, Eduardo e Adriano, além de 12 netos e quatro bisnetos.

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