Otimismo com mercado de trabalho aumenta intenção de consumo das famílias
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), avançou 2,6% em junho, descontados os efeitos sazonais, e manteve sua trajetória de crescimento. Pelo terceiro mês consecutivo, todos os indicadores avançaram nas comparações mensal e anual, aproximando o índice da zona favorável (acima dos 100 pontos). Quatro dos sete indicadores já estão no quadrante positivo: satisfação com emprego e renda atuais e perspectivas profissional e de consumo. A queda da inflação além do esperado e o mercado de trabalho aquecido têm deixado os consumidores mais dispostos a consumir. Embora mais otimistas, o endividamento em nível elevado e os juros altos limitam a capacidade de consumo e os efeitos benéficos da maior renda disponível. Com isso, as vendas do varejo e dos serviços têm desacelerado. A perspectiva profissional foi o indicador com a maior alta em junho (+4,9%).
Conforme a economista da CNC responsável pela ICF, Izis Ferreira, a maior satisfação com o emprego atual é reflexo da geração de vagas formais pelo setor de serviços e pela construção civil, setores que vêm contratando pessoas com menor nível de escolaridade. Isso fez o índice alcançar 122,3 pontos, o maior nível desde março de 2015. O indicador que mede a intenção de compra de duráveis também avançou na casa dos 6,5%, porém sobre uma base de comparação baixa – o nível segue em 57,8 pontos. "Isso demonstra que, mesmo que o consumidor esteja mais animado com as compras a prazo, principalmente por estar mais seguro no emprego, o crédito seleto e caro limita a aquisição desse tipo de produto", analisa a economista. Nessa linha, a pesquisa apontou que 4 em cada 10 consumidores relataram ter mais dificuldade de obter crédito.
Por outro lado, na comparação anual, os indicadores que medem a percepção das famílias sobre o nível atual de compras, a renda e a perspectiva de consumo no curto prazo apresentaram as maiores taxas – 32%, 26,4% e 30,4% de alta, respectivamente. Isso porque, em junho de 2022, a inflação anual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulava alta de 11,9%, apertando os orçamentos domésticos e corroendo o poder de compra da maioria da população. "Esse cenário fez com que os consumidores recorressem mais ao crédito para recompor seus rendimentos e, consequentemente, tinham menos intenção de comprar. O IPCA acumula alta de 3,9% até maio deste ano, uma inflação três vezes menor do que no mesmo período do ano passado, o que favorece o consumo", esclarece Izis.
Otimismo avançou mais entre consumidores de menor renda
O avanço na intenção de consumir em junho foi mais expressivo entre os consumidores de rendas média e baixa (com alta de 3,1%) do que entre os consumidores de renda alta (com crescimento de 2,2%). A diferença é provocada pela melhor perspectiva profissional, indicador que cresceu 5,8% no grupo que ganha menos de 10 salários mínimos. Além de mais seguros no emprego, 52% acreditam que terão melhores condições de trabalho nos próximos meses, a maior proporção desde abril de 2015. A perspectiva profissional também aumentou para os de maior renda, mas em menor escala, com majoração de 2,8%. No recorte por gênero, embora mais homens apontem que a perspectiva no emprego é positiva (53,1% do total do público masculino), foi entre as mulheres que a proporção mais cresceu em um ano (8,8 pontos percentuais), o que levou 52,2% das pesquisadas a vislumbrar melhores condições no trabalho, nos próximos meses. Esses fatores, como aponta Izis, levaram a intenção de consumo a avançar 24% entre as mulheres, enquanto o índice cresceu 19% entre os homens.
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