Sou todo ouvidos
Tenho observado que alguma coisa mudou na forma como lido com os problemas e sua consequente superação. Não saberia sequer dizer se a mudança foi para melhor, mas algo aconteceu. Não falo, certamente, daqueles transtornos realmente graves como os que podem estar ligados à saúde, à segurança e às finanças claudicantes. Sobre estes – é bom que bata na madeira enquanto é tempo –, o destino vem me poupando de dissabores, muito embora seja doloroso ver amigos de longa data começarem a entregar os pontos diante de tratamentos que lhes minam pouco a pouco a resistência e parecem apressar o fim até dos mais combativos.
Em meu caso, falo de dissabores menores, mas nem por isso meio paralisantes. Decepções no mundo dos negócios, anticlímax em entendimentos que julgávamos em estágios adiantados, enfim, aborrecimentos que podem representar a perda de meses de trabalho e o esfarelamento de boas iniciativas. Historicamente, minha atitude diante dos reveses era a de buscar isolamento e, como faz um animal ferido, só sair da toca depois que os tivesse purgado a mais não poder. Ou seja, dificilmente dividia com alguém a aflição. Vocacionado para dar notícias boas, simplesmente me mortificava preocupar os outros em vão, gente que pouco ou nada poderia fazer.
Pois bem, acredito que dois pontos tenham sido crucias nessa evolução. Primeiro, é claro, vem o papel da escrita. É por intermédio dela que dou forma concreta ao problema, que o diagnostico. É como se, caso não escrevesse sobre ele, ele permaneceria turvo e com contornos indefinidos. Em segundo lugar, acho que tinha mesmo um problema de ouvir. Não, não falo da questão física, mas de escutar seriamente. Muitas vezes as pessoas próximas me diziam: "Mas eu te falei que isso, você é que não quis (ou não soube) ouvir". Mais do que um arrobo retórico, tenho me dado conta de que elas tinham razão e de que ser um bom ouvinte em coisas que me dizem respeito não é meu forte.
Isso dito, sou todo ouvidos.
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