Perspectiva de consumo das famílias é a maior desde abril de 2020

Consumidores com maiores salários estão frustrados com acesso ao crédito
A inflação mais contida nos últimos meses tem beneficiado a renda disponível para o consumo, a despeito do maior endividamento das famílias

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que os consumidores de menor renda começaram 2023 com mais disposição para gastar. Na outra ponta, as famílias que recebem maiores salários pretendem reduzir seu nível de consumo. No geral, o índice subiu 1,3% em janeiro, na comparação com dezembro – descontados os efeitos sazonais –, e é o maior desde abril de 2020. A perspectiva de consumo foi o item que mais cresceu na comparação mensal, na ordem de 2,7%. "Esse dado indica que as famílias em geral esperam melhores condições de consumo no futuro. De fato, desde outubro de 2022, a perspectiva de consumo tem se mostrado mais positiva do que o consumo propriamente dito", afirma o presidente da CNC, José Roberto Tadros. Segundo ele, a inflação mais contida nos últimos meses tem beneficiado a renda disponível para o consumo, a despeito do maior endividamento das famílias.

Os consumidores entrevistados estão mais satisfeitos com a renda atual: o indicador avançou 2% em janeiro, em relação ao mês anterior, e apresentou alta de 31,8% no comparado com o mesmo período de 2022. Aproximadamente 39% dos entrevistados afirmaram estar recebendo o mesmo valor do ano passado, e cerca de 35% tiveram melhora da renda. Para 25,6% dos entrevistados, a renda piorou. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no ano passado aumentou 5,8%; em 2021, o índice havia registrado alta de 10,4%. O aumento geral da ICF foi puxado pela intenção das famílias com salários mais baixos, subindo 1,9% em relação a dezembro do ano passado e 25,7% na variação anual. O índice atingiu 91,2 pontos e, embora esteja ainda na zona de insatisfação (abaixo dos 100 pontos), é o maior desde abril de 2020.

A economista responsável pela ICF, Izis Ferreira, avalia que os consumidores de rendas média e baixa acreditam em uma melhora das condições de consumo, nos próximos meses. "Uma das causas do otimismo é a ampliação do principal programa de transferência de renda do governo, com o pagamento do valor mínimo de R$ 600, além do incremento de R$ 150 por criança até seis anos", explica. Segundo ela, essa injeção de mais recursos nos orçamentos das famílias gera ânimo ao consumo mesmo com maior endividamento e dificuldade de acesso ao crédito.

Por outro lado, as famílias de maior renda estão mais frustradas com a conjuntura econômica e menos dispostas a gastar no começo de 2023: a intenção de consumo caiu 1% entre eles. "Os consumidores desse grupo estão menos satisfeitos com o nível de consumo atual, pois estão pagando mais pelos serviços em geral, e mais descontentes com a perspectiva profissional e com o acesso ao crédito, que está mais caro e seleto", conclui Izis. Conforme a economista, a proporção de endividados no ano passado cresceu mais entre esse grupo, como mostrou o relatório anual de 2022 da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (Peic), também realizada pela CNC. Mesmo assim, a ICF continua no espectro do otimismo para essa faixa de renda, com 107,7 pontos. A variação anual indicou crescimento de 15,1%.

"Mesmo que a Peic tenha mostrado que as mulheres estão mais endividadas do que os homens, a ICF expôs que elas avaliam a renda e o nível de consumo de forma mais positiva do que os homens", ressalta ela. No recorte por gênero, a ICF apontou que, entre as mulheres, houve avanço de 3,3% em janeiro e 26% na variação anual na intenção de consumo. Apesar disso, o índice está em 91,4 pontos, ainda no campo de insatisfação. A taxa em relação aos homens está mais alta, em 96,2 pontos, e a perspectiva de compra aumentou 23,1% no comparativo com janeiro de 2022.

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Segunda, 25 Novembro 2024

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