Pense simples
Menos é mais. Esta sábia frase foi dita em 1919, por Mies van der Rohe, sintetizando a filosofia da renomada escola de design e arquitetura alemã Bauhaus que fez história. Que impacto teria essa frase dita por um arquiteto do século passado nas nossas empresas de tecnologia atuais?
Trabalho há anos com o mercado de tecnologia da informação, e me deparo constantemente com produtos digitais cuja interface de usuário é extremamente complexa. Mesmo que o time de programação que desenvolveu a ferramenta tenha tido a melhor das intenções, o resultado é um produto difícil de usar. Um exemplo de problema recorrente é disponibilizar aos usuários todos os recursos de um software em uma única tela, resultando em uma interface densa e carregada. Pensa-se estar fazendo um grande bem, pois é exatamente aquilo que um usuário técnico costuma gostar: ter o máximo de opções possíveis disponíveis em um sistema.
O problema é que o programador não possui o mesmo perfil dos usuários médios, suas exigências são completamente diferentes. O que o usuário comum deseja é realizar a sua tarefa da forma mais simples e direta possível, o que significa, muitas vezes, aproveitar apenas cerca de 20% dos recursos de um sistema. Os outros 80% provavelmente nunca serão sequer testados. Colocando-se no lugar do cliente de seu produto vale a reflexão: será que ele não seria muito mais satisfeito se esses recursos estivessem facilmente acessíveis em uma interface visualmente limpa e direta?
É importante ressaltar que essas considerações têm alguns contrapontos que devem ser avaliados: não adianta tirar opções demais de uma interface, tornando o produto um grande enigma para o usuário. Também deve-se saber quais são as reais necessidades desse usuário. Não adianta colocar na tela 20% de inutilidades. Para fazer uma correta avaliação, basta entrar em contato com os clientes, que normalmente se dispõem a colaborar de bom grado, pois serão beneficiados depois. Ao simplificar a interface, a área de suporte da empresa também irá agradecer, pois não terá mais que passar horas por dia esclarecendo as mesmas dúvidas de sempre, geradas pelo alto grau de complexidade da interface. Igualmente, os projetos andariam mais rápidos, pois o foco do desenvolvimento seria voltado às principais funcionalidades do aplicativo.
A dificuldade é tentar fazer com que as equipes responsáveis pela construção de produtos digitais pensem simples. Estão tão imersas no negócio que falta o distanciamento necessário para apreender o olhar do mercado. Não é raro presenciar times dedicarem horas, dias, ou até mesmo semanas desenvolvendo funcionalidades específicas e complexas. Ao vermos o resultado, constatamos que muitas daquelas horas de trabalho foram dedicadas para atender casos muito específicos e que raramente serão utilizados no dia a dia do usuário comum. Se esse mesmo tempo fosse voltado às funcionalidades realmente percebidas como necessárias pelo mercado, a versão 1.0 poderia ir mais cedo para a rua. Quando somadas, ao longo de um grande projeto, essas situações corriqueiras resultam em um custo muito grande para as empresas.
O ponto aqui é que pensar simples é difícil e demanda multidisciplinaridade. Normalmente esse direcionamento deve partir da alta gestão da empresa. Cabe a ela o papel de estruturar seus projetos considerando novas variáveis baseadas na experiência de seus clientes. Ao fazer isso na etapa inicial de cada trabalho não só irá resultar em um produto muito mais atrativo comercialmente como também reduzirá o seu tempo de desenvolvimento. Como trata-se de uma prática relativamente recente na área de tecnologia, muitas vezes existem resistências e alguma descrença. Pensam que, ao reduzir os requisitos, o produto sairá perdendo, quando a verdade é justamente oposta. Menos é mais, esta é uma grande lição ditada há muito tempo atrás, mas que nunca foi tão atual.
Think simple and be happy!
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