Aprendendo marketing com “De volta para o futuro”
Na última quarta-feira, 21 de outubro, o mundinho nerd esteve em êxtase. A data marca o dia no qual o protagonista do filme “De volta para o futuro 2” desembarca 30 anos adiante do seu tempo, graças à invenção de um cientista maluco. No distante 2015, ele encontra um mundo repleto de transformações e modernidades, em uma especulação clichê – e irresistível – a respeito do futuro. Entre tanta coisa dita e publicada a respeito do filme, uma, particularmente, interessa ao marketing: a de que já existiriam condições tecnológicas para que algumas das invenções da ficção ganhassem as ruas – caso notadamente do skate voador, símbolo da modernidade encontrada no futuro pelo personagem principal.
A questão que inevitavelmente aparece nessas horas é: se há tecnologia para disponibilizar um produto, por que então não fabricá-lo em escala comercial?
Ora, porque disponibilidade tecnológica é apenas um dos elementos necessários para tornar um produto viável. Condições econômicas de fabricá-lo a preços suportáveis pelo consumidor, bem como interesse do próprio consumidor na novidade, são os outros fatores a se observar. E, aparentemente, se de fato existe tecnologia para o tal skate, é bastante provável que ela não seja economicamente viável, pelo menos não agora.
Além disso, o tal skate voador constituiria uma invenção radical, uma inovação como poucas. Mesmo que despertasse o desejo dos consumidores, exigiria uma adaptação do fluxo de pedestres nas grandes cidades. Se em alguns lugares caminhar já é uma aventura e tanto, sujeita a ultrapassagens, esbarrões e encontrões, inserir uma engenhoca com a qual os seres humanos não têm qualquer familiaridade poderia tornar-se fonte de trapalhadas e acidentes. Bem menos inovador que o fantasioso skate, o Segway (lembre o que é aqui) nunca cumpriu a promessa revolucionária na qual veio embalado justamente por exigir mudanças comportamentais e de infraestrutura (calçadas perfeitamente planas, locais para estacioná-los ou guardá-los) nas quais ninguém se dispôs a investir.
Ainda assim, caso alguém tivesse a ousadia de colocar o skate voador no mercado, arriscaria dizer que não se sairia melhor do que um seguidor que esperasse para lançá-lo anos depois, quando não só a tecnologia estivesse mais madura, como também o aprendizado do consumidor com o produto original já oferecesse insights para adaptações e melhorias. Não é preciso visitar o futuro para saber que não vale a pena correr certos riscos, e esse, ao que tudo indica, é um deles. Basta observar o passado.
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