A experiência Airbnb
Bem mais baratos do que o hotel, nem por isso menos sujeitos a contratempos, os apartamentos da plataforma Airbnb são cada vez mais numerosos. O padrão de identificação do alojamento ideal melhorou muito, mesmo porque agora as avaliações negativas já não podem ser deletadas pelo locador, o que nos permite pesar bem os prós e contras de cada imóvel. Ainda assim, a experiência Airbnb é muito pessoal. Muita gente se pergunta o que vai fazer numa cozinha completa se um dos encantos de viajar é comer nos restaurantes. Já outros se deleitarão de poder comprar ingredientes locais para fazer suas receitas au grand complet. Muitos se sentirão inseguros com a falta de uma recepção. Outros vão curtir esse ar de morador local que a experiência faculta, muitas vezes em imóveis onde só um ou dois apartamentos são de locação para forasteiros.
Falemos de meu caso. Quando alugo um alojamento da plataforma, geralmente é por uns dez dias. Menos do que isso é um desperdício porque os primeiros são dedicados às queixas, às descobertas, e ao aprendizado (sempre incompleto) de como funciona a televisão, o aquecedor, o wi-fi, a geladeira, a fechadura, a cafeteira e o chuveiro. Em paralelo a isso, preciso tatear a vizinhança e achar um bar, um bistrô, um mercado, um quiosque, uma praça, um banco e, só para ter ideia, uma farmácia e um hospital. A depender do estado do imóvel, dou uma olhada na saída de emergência e vejo pela janela se tem no térreo alguma coisa que me apare em caso de incêndio (piscina, carroça de feno, árvore ou terraço). No quarto, faço um teste no colchão, verifico se a lâmpada da cabeceira funciona e traço mentalmente um roteiro para sair do quarto no escuro para ir ao banheiro. Aqui onde estou são três passos à direita, porta, mais seis à direita e estou lá.
Só então me ajusto à cadeira, tiro ou boto almofada, e ligo o computador. O trabalho é a parte central de minha vida. Enquanto ele embala – o que leva uns cinco minutos entre ameaças do antivírus e alertas de saturação de memória –, distribuo os livros entre a sala, o banheiro e a cozinha e deixo óculos à mão (mesa, copa, lavabo e quarto). Isso feito, é hora de sair para comprar frutas e produtos da terra. Estou então pronto para dez dias. Menos do que isso, não vale todo o esforço de aprendizado. Mais do que isso, posso começar a ficar saturado. A depender do lugar, deixo-me entregar aos fantasmas que o habitam. Quem viveu aqui? Quantos já morreram no quarto? E quantos nasceram? À noite, testo os barulhos declinantes, o império do silêncio, a paz do inverno. Ontem a dona veio me receber pessoalmente e disse que só me aceitou por eu ser "ficha limpa" na plataforma e ser bem avaliado pelos locadores anteriores. O apartamento merece.
Se você ainda não teve sua primeira experiência Airbnb, está na hora. Se até desengonçados como eu se viram (e gostam), você tem tudo para se dar bem.
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