Uma visão sintética do Brasil
Dia desses o ex-ministro Delfim Netto disse que o Brasil está virtualmente reduzido a ser uma colônia da China. Exageros à parte, tem muito de verdade constatar que a dependência das exportações de soja e de minério de ferro para a Ásia se revela preocupante, mesmo porque o país passou por uma profunda desindustrialização, mercê das expectativas criadas em torno do pré-sal, o que nos jogou nas malhas da "doença holandesa" .
Seja como for, temos de entender que sob o ponto de vista geopolítico, somos um país extremamente desinteressante sob uma ótica global. Sem saída para o oceano Pacífico, o grande eixo da riqueza mundial, e isolado do restante do mundo, prevalece a impressão de que somos uma espécie de Austrália, longe de tudo e de todos, sem a vantagem de termos uma população pequena e bem educada como é o caso do quase continente insular.
Nesse contexto, para evitarmos que essa visão se calcifique e nos condene ao imobilismo que paralisa alguns países africanos, impõe-se que tenhamos um presidente pronto para formatar e executar uma visão que contemple de forma inequívoca nossa inserção no mundo, a despeito das candentes desvantagens de natureza geopolítica que nos limitam. É isso ou perecer no esquecimento e ficar na rabeira da composição.
Assim sendo, ademais da revolução educacional, um desafio contínuo e de longo prazo, é vital que facilitemos a entrada de grandes cérebros no país, como forma de adensarmos os clusters ainda incipientes de nanotecnologia, inteligência artificial, biotecnologia, além de uma reindustrialização que possa equilibrar a força que temos na área do agronegócio e, em certa medida, no segmento de serviços.
Sem o concurso de um presidente que esteja à vontade no mundo, nossos pontos fracos tenderão a se tornar crônicos mesmo porque nossas vantagens comparativas são relativamente modestas quando cotejadas com a força chinesa, o poder russo – que decorre da área energética –, o colosso dos Estados Unidos, e já nem falo aqui dos países ricos, como é o caso da maioria das nações europeias.
O que é mais crítico, contudo, é que isso não parece incomodar para além da retórica, sequer um dos candidatos que assomam no horizonte.
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