Coronavírus causará queda de 13,9% nas exportações
A revisão da balança comercial para 2020, divulgada nesta quarta-feira (22) pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), prevê exportações de US$ 192,7 bilhões, queda de 13,9% em relação aos US$ 223,9 bi em 2019; e importações de US$ 145,2 bilhões, recuo de 18,1% em relação aos US$ 177,3 bi do ano passado. Para o superávit, estimado em US$ 47,4 bilhões em 2020, haverá aumento de 1,7% em comparação com os US$ 46,6 bilhões de 2019. Os números já refletem os efeitos da pandemia do novo coronavírus.
A previsão anterior da entidade, divulgada em 18 de dezembro do ano passado, apontava para exportações de US$ 217,3 bi, importações de US$ 191,2 bi e superávit de US$ 26,1 bilhões. "Dezembro era completamente diferente, não tinha pandemia. As exportações cresceriam porque o PIB também cresceria, mas agora isso não vai mais acontecer. Então, o dado de dezembro não tem nada a ver com a realidade", afirmou o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Segundo a revisão feita pela AEB, o superávit projetado evoluiu em relação à previsão anterior porque, com a queda do PIB no mercado interno, as exportações terão uma queda muito forte. Isso faz com que cresça o superávit, não pelo aumento nas exportações, mas pela retração nas importações. O estudo salienta que o superávit comercial projetado para o Brasil em 2020 será triplamente negativo, pois será obtido com queda das exportações de 13,9%, das importações de 18,1%, e de 15,4% na corrente de comércio, com geração de redução da atividade econômica. Os dados projetados para 2020 sinalizam que o Brasil deverá ocupar a 30ª posição no ranking mundial de exportação e 31ª de importação, com a participação nas exportações globais caindo para perto de 1%.
O presidente da AEB explicou, ainda, que a queda de 13,9% nas exportações se deve, principalmente, à redução de 27,3% dos produtos manufaturados, responsáveis pela geração de empregos qualificados no país. Na América do Sul, principal cliente do Brasil em manufaturados, em especial automóveis, que é a Argentina, está passando por uma grande crise. Dos principais itens brasileiros de exportação, dez são commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional). "Não tem nenhum produto manufaturado", observa Castro. Pelo sexto ano consecutivo, a soja será o principal produto de exportação do Brasil em 2020, seguida do minério de ferro e do petróleo.
Na lista de manufaturados exportáveis, os principais produtos são automóveis e aviões, cujas quedas previstas para este ano pela AEB atingem 36,7% e 66,5%, respectivamente. "Em manufaturados, nós não temos nada para destacar de positivo", sintetizou. Excetuando 2018, o estudo da AEB revela que as exportações nacionais de manufaturados se mantêm em patamar inferior a US$ 80 bilhões desde 2014, com o valor projetado para 2020 de US$ 56,2 bilhões, perto das exportações registradas em 2004.
Brasil e China
O presidente da AEB torce para que o ano passe rápido e 2021 comece logo, de preferência com alguma mudança estrutural, como a reforma tributária. Ele analisou que, em princípio, o projeto de reforma tributária apresentado ao Congresso pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, atende ao setor porque a exportação não será tributada. Na opinião de Castro, a redução de custos é positiva porque contribui para aumentar as exportações de manufaturados.
No atual cenário, a China continua como o principal cliente do Brasil, por conta das commodities, totalizando participação de 35%. "É uma concentração muito grande em um único país", comentou Castro. Para o presidente da AEB, é preciso reduzir o chamado Custo-Brasil para tornar o gigante asiático cliente de produtos manufaturados brasileiros e não apenas de commodities. Segundo Castro, o grupo de países da União Europeia pode se tornar também um cliente dos manufaturados produzidos no Brasil.
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