Brasil vai à China: certezas e incertezas

A recepção inusual do vice-presidente brasileiro pelo presidente chinês Xi Jinping (foto), por ocasião da sua participação na 5ª Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), em Beijing, dia 23 de maio, diz m...
Brasil vai à China: certezas e incertezas

A recepção inusual do vice-presidente brasileiro pelo presidente chinês Xi Jinping (foto), por ocasião da sua participação na 5ª Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), em Beijing, dia 23 de maio, diz muito do pragmatismo e habilidade política que são marcas registradas dos governos da China. É raro um presidente receber um vice, e ter ocorrido esse fato agora pode revelar a disposição chinesa de passar por cima das agressões verbais gratuitas de representantes brasileiros contra ela. Essa foi a melhor notícia das relações Brasil-China dos últimos meses – melhor até que o superávit recorde obtido na balança comercial em 2018, de US$ 29,5 bilhões –, e boa o suficiente para se pensar novamente na venda de outros produtos para os chineses, além de carnes, minério de ferro, celulose e soja, e no aumento da atração de investimentos. 

Segundo a Agência Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão teria declarado que o governo brasileiro está disposto “a fortalecer o diálogo e a cooperação entre os dois países, bem como promover a integração da estratégia de desenvolvimento do Brasil com a iniciativa chinesa de investimentos, conhecida como Cinturão e Rota”. Para ele, “os objetivos do Brasil foram atingidos com a reativação da Cosban: a mensagem política de que o Brasil vê a China como parceiro global estratégico, que quer aprofundar essa posição, e que a Cosban passe a ser o mecanismo de mais alto nível de concertação entre os dois países.”

Caso realmente se concretize a participação brasileira no megaempreendimento “Cinturão e Rota”, via investimentos chineses em ferrovias e hidrovias (a sonhada saída para o Pacífico), o país dará um salto não apenas na corrente de comércio (hoje poderia ser de US$ 300 bilhões, ao invés dos US$ 98,9 bilhões de 2018) com o seu maior parceiro comercial há dez anos, mas também na rentabilidade e diversidade das exportações, investimentos, intercâmbios científicos e culturais, e outras formas de cooperação com a China.

O retrospecto das ações – e, principalmente, da falta delas – do lado brasileiro é que alimenta as incertezas sobre o que resultará de concreto de mais esse passo nas relações entre os dois países. A Cosban existe há 15 anos, mas estava parada desde 2015. Nas reuniões anteriores, muito dos avanços “no papel” ficaram somente ali. Até aonde se sabe, pouco andou do proposto no Plano de Ações Conjuntas 2010/2014, Plano Decenal (2012) e acordos assinados em maio de 2015, durante a visita do primeiro-ministro Li Keqiang e comitiva ao Brasil, com anunciados US$ 53 bilhões de investimentos em 35 diferentes projetos. As incertezas aumentam para o Brasil com o endurecimento do confronto político e comercial entre a China e os Estados Unidos, por causa do 5G e do que ele representa na disputa maior entre os dois gigantes, pelo domínio mundial científico, tecnológico e de inovação. Enquanto os dois países investem quase US$ 1 trilhão anual nessas áreas, o Brasil reduziu as parcas verbas, distanciando-se cada vez mais das economias mais desenvolvidas. Por isso, a certeza nesse momento é que é preciso “marcar sob pressão” o governo federal e entidades empresariais, para efetivar o acertado com a China.

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Sábado, 23 Novembro 2024

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