Um e-mail perplexo de Barcelona
Mal despertei nesta quarta-feira de muito calor aqui na Alsácia, uma rápida olhada nos e-mails apontou o recebimento de uma mensagem do velho amigo Oriol, um catalão de sete costados com quem já trabalhei muito em Barcelona, antes de ele se aposentar e abraçar as belas paisagens dos Pirineus com seu cão de caça e o silêncio das montanhas. Disse ele na verbosa missiva cujos trechos principais decidi traduzir para o post de hoje: "Estimado Fernando, Espero que teu e-mail continue o mesmo e que eu não esteja a gastar meu castelhano em vão. Onde que que estejas, deves saber que Neymar acaba de anunciar ao vestiário do Barça que pretende deixar o clube após 4 temporadas que, como sabemos, só o encheu de glória e dinheiro. E para onde quer ir? Para o opaco Paris Saint-Germain no não menos opaco futebol francês. Te pergunto: não achas isso uma rematada ´tonteria`? Um disparate completo?"
O que faz meu amigo Oriol pensar que eu tenha uma opinião formada a respeito de um tema que, na verdade, eu mal vinha acompanhando pelos jornais? Certamente o fato de ser brasileiro, torcedor do Santos – mal sabe ele o quanto a relação do jogador com ex-clube azedou – e, certa feita, de ter-lhe apresentado a Rivaldo, jogador de seu time de coração, que não hesitei em abordar num restaurante. Com essas credenciais, o bom Oriol me crê portador de poderes especiais junto ao plantel brasileiro da esquadra catalã. Então continua: "A ida para o PSG é um atalho curto para a notoriedade fácil. Não tenho dúvida de que lá ele pode brilhar. Mas se engana ao pensar que vai se tornar o melhor do mundo jogando numa equipe que tão cedo sairá vencedora dos grandes torneios da Europa e do mundo. O Barcelona é uma vitrine e projetou muitos brasileiros. Rivaldo, os dois Ronaldos e Romário são só alguns".
Meu Deus, pensei eu, o mundo se acabando e Oriol com esses pensamentos. Tenho vontade de lhe responder que o erro do Barcelona foi não ter segurado Daniel Alves no elenco. Além de ter perdido um grande jogador – que, a justo título, talvez estivesse mesmo precisando de um mudança de ares –, esfarelou o centro do núcleo brasileiro do clube. E, como diz uma amiga francesa, brasileiros são muito gregários e conviviais. Longe dos seus, não conseguem ser genuinamente felizes. Ora, a possibilidade de vir a jogar de novo com o próprio Daniel, de par com mais dois companheiros de Seleção, certamente balançou o coração fragilizado do grande Neymar, logo agora que atravessa as turbulências de mais uma desilusão amorosa com uma atriz que vem se revelado a baliza mais inexpugnável de sua carreira. Ademais, quer Oriol queira quer não, os encantos de Paris estão um pouco além dos de Barcelona. E nada que fascine tanto a juventude quanto a renovação das paisagens.
Assim ele finalizou: "Sei que está além de nossos poderes de meros torcedores reverter uma decisão que foi muito pensada e que envolve um dinheiro com que sequer conseguiríamos sonhar. Mas ouso dizer que está faltando a Neymar um pouco de paciência. Messi logo deverá se despedir do futebol (oxalá antes que eu me despeça da vida), o que abriria um espaço excepcional para ele. Seja como for, revelou-se um grande rapaz e honrou as cores de nosso clube enquanto esteve por aqui. Na verdade, sempre poderia ser pior. Já pensaste se ele saísse para o Real Madrid como fez o desgraçado do Figo? E tu, quando apareces? Desististe de aprender o catalão? Pois seria uma pena porque fazias progressos a olhos vistos viagem após viagem. Quando quiseres respirar o ar puro das montanhas, cá eu te espero por essas bandas. Com o abraço e o carinho do amigo de sempre, Oriol." Paciência, o que se há de fazer?
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