Trump precisa aprender a jogar Mahjong

Se soubesse, o presidente norte-americano talvez agisse com mais política e menos "tranco", porque esse jogo tem muito a ver com a lógica com que operam empresários e governos da China
Se jogasse Mahjong com Xi Jinping, no tabuleiro de Donald Trump estariam agora as 80 mil vítimas fatais da Covid-19 nos EUA

O presidente norte-americano parece decidido a "dar uma boiada" para não sair da guerra com a China. Quando parece que vai amenizar o tom das críticas ao país, eis que ele surge com a acusação de que o governo chinês é o responsável pela disseminação mundial do Covid-19, irritando as lideranças governamentais e empresariais chinesas mais do que se possa imaginar. Agindo assim, Trump contribui para agravar os problemas mundiais – dos quais a recessão ainda não é o maior – e o que o mundo precisa é de mais entendimento entre as maiores economias, para reduzir a recessão e voltar à vida "normal" pós-Covid-19.

Jimmy Carter, presidente que reatou as relações diplomáticas dos Estados Unidos com a China, em 1979, em didática entrevista à Newsweek, em abril de 2019, destaca os benefícios econômicos da paz, comparando os gastos militares dos EUA e investimentos em ferrovias de alta velocidade da China nos últimos 40 anos.

Se soubesse Mahjong, o presidente norte-americano talvez agisse com mais política e menos "tranco", porque esse jogo, da época de Confúcio e de Sun Tzu (portanto há mais de 2.500 anos), tem muito a ver com a lógica com que operam empresários e governos da China, responsável, em grande medida, pelo sucesso do país não apenas no controle da pandemia, mas também do seu desenvolvimento econômico e comercial. Se jogasse Mahjong com Xi Jinping, no tabuleiro de Trump estariam agora as 80 mil vítimas fatais da Covid-19 nos EUA; as eleições presidenciais em novembro; o 5G e a "pole position" norte-americana nas inovações tecnológicas da indústria 4.0; o déficit crônico na balança comercial US-CN; o desemprego recorde nos Estados Unidos; e o prejuízo incalculável do dólar deixar de ser a referência monetária global e, a partir de agora, ter de concorrer nas transações mundiais com o Remimbi, a "moeda do povo" da China.

Evidente que do lado chinês as coisas também estão difíceis, a começar pelo desemprego, que teria atingido 6,2% em fevereiro, taxa 50% superior à média histórica. Na China, o cálculo do desemprego é feito considerando a parcela urbana (cerca de 500 milhões de trabalhadores) da sua população economicamente ativa total – 787 milhões de pessoas em 2019. Por isso, os 6,2% significam mais de 30 milhões de desempregados, um número muito grande inclusive na China.

Com dois agravantes: o esperado "desemprego qualificado" de 9 milhões de estudantes universitários que se formarão no meio do ano, e dezenas de milhões de moradores das áreas rurais que trabalhavam nas cidades, voltaram às suas cidades de origem por causa da pandemia, e agora não têm mais o emprego que deixaram... Por isso, há quem estime que o desemprego urbano na China possa chegar a 10% esse ano – e aí as medidas dos governos para minorar o drama talvez não sejam suficientes. O turismo (11,3% do PIB da China em 2019) cessou e vai demorar a voltar aos níveis de 2019. Produtos chineses terão de ser exportados por valores menores, pois seus compradores estarão mais pobres. Em compensação, o petróleo está mais barato do que nunca, assim como outras commodities consumidas em grande escala pela China.

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Sábado, 23 Novembro 2024

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