PhDs em instabilidade
Se as sucessivas crises econômicas e a permanente instabilidade institucional brasileiras tiveram alguma utilidade, foi a de forjar os empresários e gestores mais criativos e flexíveis do mundo. Constatação que não é minha, por sinal, e sim de recrutadores de multinacionais de todos os portes e setores.
Pois agora uma nova geração de profissionais com essas características parece estar sendo gestada pertinho daqui, em solo venezuelano. Caracas e arredores estão repletas de empreendedores com perfil semelhante ao brasileiro, segundo conta a imprensa:
“Quem consegue empreender no país é uma espécie de ‘herói’, porque requer muita criatividade desenvolver um negócio diante de todas as dificuldades que estão afetando os cidadãos venezuelanos.(...) O segredo para empreender na Venezuela é ‘ser sempre engenhoso, criativo, adaptável e flexível às mudanças’, pois trata-se de um país onde ‘as condições sempre mudam’ e os ‘processos são dinâmicos’” (leia matéria completa aqui).
O perfil de empresários e executivos deriva muito das características culturais de um país, bem como de seu ambiente de negócios. À medida que a globalização e as novas tecnologias avançaram, o cenário competitivo internacional passou a se assemelhar um pouco mais com aquele encontrado em países em desenvolvimento, como os da América do Sul e da Ásia, e a se distanciar das estáveis economias do hemisfério norte. Ponto para quem já estava acostumado com circunstâncias parecidas.
Hoje, porém, a instabilidade parece ser a ordem onde quer que se esteja. Homens e mulheres de negócios dos Estados Unidos estão permanentemente de olho no imprevisível presidente Donald Trump, enquanto o avanço do populismo conservador atemoriza também o empresariado europeu.
Mas nada se compara, claro, ao que ocorre na Venezuela atualmente. Se existe algum consolo para quem atua por lá é saber que, enquanto europeus e norte-americanos recém começaram sua graduação em mercados instáveis, Caracas e adjacências produzirão a maior quantidade de doutores em imprevisibilidade do mundo.
Como o Brasil o fez, lá na década de 1980 – e, esperamos, nunca mais precise fazer.
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