O comércio Brasil-China em um horizonte de 15 anos

Webinar promovido pelo CEBC e Cebri debateu o tema
No caso brasileiro, o drama está escrito: exportamos grande quantidade de poucos produtos sem outro mercado com os mesmos volumes de demandas

"O que esperar do comércio Brasil-China nos próximos 15 anos" – com esse título promissor, a webinar realizada dia 16 de junho pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), com o patrocínio da BRF, consistiu basicamente na apresentação e rápido debate sobre o estudo dos quatro cenários em 2035 do comércio entre a China e os países da América Latina e Caribe (LAC), realizado por Tatiana Prazeres, Pepe Zhang e David Bohl para o China Council, de Washington, e publicado em abril.

Os cenários prováveis elaborados consideraram a trajetória até aqui, as variáveis atuais e as tendências da China, dos países da LAC, e dos Estados Unidos também – afinal, o país era, até o início dos anos 2000, o maior parceiro comercial de todos os países da região, condição parcialmente perdida para a China (no caso brasileiro, em 2009). Nessa lógica, o primeiro cenário esperado é o atual, com os EUA mantendo-se firme na disputa, ainda que ocorra aumento de expressivo do comércio LAC-China (mais do que o dobro de 2020).

Ou seja, consideram que até 2035, os valores comerciais provavelmente atingirão níveis sem precedentes, o que incluirá maior aporte de recursos financeiros e investimentos chineses. Em números, a estimativa é que o comércio da região com a China atinja US$ 700 bilhões. O segundo cenário considera o óbvio: até 2035, a China terá ultrapassado os EUA como principal parceiro comercial da região, com consequente redução da importância comercial dos EUA para os países antes dependentes dele – em 2020, a LAC foi cerca de três vezes mais dependente dos Estados Unidos para exportações do que da China. Nesse cenário, a China deverá representar 40% ou mais das exportações do Brasil, Chile e Peru. Se tal situação se concretizar, na prática trocaremos "seis por meia dúzia".

Redução das exportações de produtos agropecuários é a principal característica esperada para o terceiro cenário, com impactos hoje imprevisíveis sobre o hiperdimensionado setor do Agro no Brasil (e, em menor escala, também na Argentina). Sabe-se que a China está investindo para diversificar seus fornecedores de grãos e carnes (como faz com o petróleo e outros minerais) – e que é só uma questão de tempo para diminuir as compras brasileiras desses produtos. Agora o horizonte foi fixado: 2035. O mesmo não deverá acontecer com compostos metálicos e minerais, cujas vendas deverão continuar subindo, ainda que em ritmo menor. A previsão é que a China consuma em 2035 um total de 45% do que o setor na LAC vender para o mundo.

Otimista, o quarto cenário imagina uma situação de equilíbrio, entre a então maior economia do mundo e os países da LAC, com grande dependência comercial mútua entre a China e a LAC, muito mais pelo aumento das importações da "fábrica do mundo", do que das vendas da "fazenda do mundo", com esperados déficits dos vendedores de produtos agropecuários e minerais, cuja relação de troca com os produtos industriais com elevado nível tecnológico da China (e de todos os outros na mesma condição, seja EUA, Coreia, Japão, Alemanha, França...) será sempre terrivelmente desigual.

O estudo analisa a situação de todos os países da LAC, destacando México e Brasil por sua importância econômica e comercial. No caso brasileiro, o drama está escrito: exportamos grande quantidade de poucos produtos sem outro mercado com os mesmos volumes de demandas, exceto a Índia, que talvez em 2035 já consiga absorver parte da soja e de outros produtos que a China já não queira mais comprar do Brasil – estrategicamente, ela não pode depender de um único fornecedor para quase metade da comida que compra no exterior.

A rigor, os cenários não trazem novidades para o Brasil, apenas reforçam o que vem sendo dito e escrito há mais de dez anos, inclusive por nós de AMANHÃ: temos de ter estratégia para lidar com a China, produtos industriais de qualidade e preços competitivos. Para isso temos de ter pelo menos 60 mil quilômetros de ferrovias – não há competitividade que resista a transporte rodoviário em um país continental –, e taxas de juros equivalentes às internacionais. E temos de ir à China para vender e não apenas para comprar. Participar com estande em suas principais feiras, como fazemos em tantos outros países. E ainda investir para vender para a Índia e países da Ásia Central, com grandes populações e produção agropecuária historicamente insuficiente.

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