Melhor começar a comprar Yuan

A China é a maior economia do Brics
Trump passou um recibo de todo tamanho para o receio de perder o lucro fácil que o dólar teve nos últimos 80 anos

Após a ameaça do próximo presidente dos Estados Unidos de punir com tarifas de 100% quem deixar de utilizar o dólar, substituindo-o por uma hipotética "moeda do Brics", o melhor a se fazer é começar a comprar a moeda chinesa, já que a China é o país com a maior economia do Brics, movimenta mais de US$ 6 trilhões por ano em compras e vendas mundiais; e suas reservas cambiais passam de US$ 3 trilhões. Portanto, a ameaça de Trump é em relação à substituição do dólar pelo yuan, muito mais factível e imediato do que por uma "suposta" moeda do Brics. O fato de ser o maior parceiro comercial de 120 países, o maior exportador e o segundo maior importador do mundo, coloca a China – e não o Brics – na liderança do comércio mundial, muito à frente dos EUA, e essa vantagem comparativa lhe permite passar a pagar as suas compras com a sua própria moeda.

Ainda que pela paridade cambial (do dólar...) os EUA continuem a maior economia mundial, com US$ 28,8 trilhões esperados de PIB em 2024, e por essa régua a China ainda esteja em um distante segundo lugar, com seus US$ 18,3 trilhões, a realidade é bem outra quando o parâmetro é o da Paridade do Poder de Compra (PPP), critério pelo qual a economia chinesa ultrapassou a dos EUA em 2017, e desde então se mantém a maior do mundo. Segundo dados do Fundo Monetário Mundial, de 2024, o PIB da China esse ano (pela PPP) é de US$ 37 trilhões, bem superior aos US$ 28,8 trilhões dos EUA. Pela PPP, a China responde por 19,05% do PIB mundial, e os EUA 14,99%, e a renda per capita chinesa atinge US$ 26.310 – maior do que a brasileira (PPP), de US$ 22.709 em 2024.

Seguindo a lógica de que a melhor defesa é o ataque, Trump passou um recibo de todo tamanho para o receio de perder o lucro fácil que o dólar teve nos últimos 80 anos, desde que foi definido como a moeda mundial em Bretton Woods, beneficiando-se da triangulação diária de trilhões de dólares em transações comerciais e financeiras. Por isso, ainda que a sua ameaça aos países do Brics possa ser apenas estratégia de quem está com medo de perder o jogo, ela tem total razão de ser – quanto lucro os EUA deixaram de realizar, após a criação do euro, há 25 anos?

Talvez a tal "moeda do Brics" ainda demore (a gestação do euro levou dez anos...), mas é evidente que ela já assusta o bilionário próximo presidente dos EUA – afinal, o bloco dos países do Brics concentra 37% da economia mundial (pela PPP), mais do que as economias dos EUA e União Europeia juntas. E até a liderança dos EUA em bilionários está em risco – segundo a revista Forbes, de abril de 2024, a quantidade deles nas duas maiores economias é de 813 nos EUA e 406 na China – ou 524, se agregar os bilionários chineses de Hong Kong (67) e de Taiwan (51).

Temos então para 2025 um cenário de enfrentamento inédito na história mundial, entre o país que comandou a economia e a geopolítica do planeta de 1945 até 2008 – quando seu sistema financeiro colapsou, levando junto para o buraco dezenas de países –, e a China, que nesse mesmo ano sediou a realização das Olimpíadas e conseguiu passar ao largo da crise e consolidar-se como segunda maior potência econômica, muito distante hoje das demais, tanto pela paridade cambial, como pela PPP: Índia US$ 16 trilhões; Rússia 6,9; Japão 6,6; Alemanha 6,0; Brasil 4,7; Indonésia 4,7; França 4,4; Reino Unido 4,3.

No caso brasileiro, a viabilidade de utilizar o yuan tem a ver diretamente com o volume de vendas (US$ 105,8 bilhões) para a China – equivalente a três vezes os US$ 36,9 bilhões para os EUA – e o de importações (US$ 53 bilhões) de lá. Ou seja, se as empresas brasileiras receberem em yuan por metade do que vendem para a China, haverá yuan suficiente para pagar o que é importado de lá.

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Quarta, 04 Dezembro 2024

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