Esqueça “China”, se você quer vender para o mercado chinês

Concentre-se em uma única cidade do país e, ainda assim, dependendo da escolhida, levará muitos anos para atender uma fração da demanda
Segundo o Censo de 2020, a província de Shandong tem 102 milhões de habitantes, segundo lugar no país em população

Algumas questões se repetem nas palestras sobre a China, desde a primeira, no distante 1997. E uma em particular nunca falta: "não temos produção em quantidade para atender a China" – a desculpa-padrão, para nem tentar vender para o mercado chinês.

Há poucos dias, novamente a questão foi colocada, dessa vez em uma reunião, meio que para encerrar a conversa do lado de lá. Realmente, atender a China, dependendo do produto, nem os Estados Unidos conseguem. Muito menos a indústria brasileira, que segue em franco encolhimento há muitos anos.

Esqueça "China", se quer vender para o mercado chinês. Concentre-se em uma única cidade do país e, ainda assim, dependendo da escolhida, levará muitos anos para atender uma fração da demanda.

Não estou me referindo aqui à gigantesca e rica Shanghai (25 milhões de habitantes, maior poder aquisitivo do país), e às dinâmicas e populosas Guangzhou (19 milhões, também conhecida por "Cantão"), capital da província de Guangdong, no sul da China, e Beijing (22 milhões), a capital do país, localizada na região norte.

Refiro-me a cidades menores – como, por exemplo, na província de Shandong, sua capital Jinan, modestos nove milhões de habitantes; Qingdao (10 milhões, o maior dos sete portos marítimos de Shandong e um dos cinco maiores do país); e Linyi, 11 milhões, a mais populosa da província e importante centro comercial e de distribuição nacional de mercadorias.

Segundo o Censo de 2020, a província de Shandong tem 102 milhões de habitantes, segundo lugar no país em população (a primeira é a província de Guangdong, 126 milhões). Próxima a Beijing (420 km) e à cidade portuária de Qingdao (360 km), Jinan é servida por trem de alta velocidade, que faz o trajeto para a capital do país em 2h, e pouco mais do que isso até o porto. Vender para uma cidade chinesa com 11 milhões de habitantes, como Linyi, significa atuar em um mercado do porte do Rio Grande do Sul.

Querendo atuar em mercado equivalente à região Sul do Brasil (30 milhões de habitantes), as três cidades citadas são suficientes, em população e em poder aquisitivo – que é maior do que o da maioria da população dos três estados. Com a vantagem da logística incomparável: por qualquer dos portos de Shandong que o seu produto chegue, ele será transportado em seguida por ferrovia para todas as cidades da China. Todas...

Detalhe importante: se a cidade no Brasil onde está a sede da sua empresa tem uma cidade-irmã na China, essa relação institucional pode facilitar várias coisas, bastando ao governo municipal agir, ao invés de esquecer que existe essa condição de "irmãs".

Ao contrário da lógica chinesa de Estado e não apenas de governo, poucas instituições governamentais no Brasil têm memória – na maioria, mudam os governantes e os que saem levam junto com eles o que foi feito, resultando em um constante "começar de novo", que se traduz em grande prejuízo para toda a sociedade.

Várias capitais e outras cidades grandes brasileiras têm cidades-irmãs na China: Belém, Recife, Salvador, Curitiba, Feira de Santana, Camaçari, Vitória, Campinas, Joinville, Itajaí, Caxias do Sul, São Leopoldo etc. Pesquise se a sua cidade tem uma "irmã" chinesa, ela poderá ser a sua entrada no maior mercado do mundo.

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Sábado, 23 Novembro 2024

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