Abril na Ásia: hecatombe?

Como outras crises, essa tem o diferencial de ter sido subestimada inicialmente por governos de países importantes

A evolução veloz da pandemia da Covid-19 nos Estados Unidos (338 mil casos confirmados, dia 6 de abril, do total de 1,3 milhão no mundo) e o aumento do número de mortes em países da Europa, têm atraído a atenção da maior parte das pessoas no Brasil. Enquanto isso, na Ásia, países como o Japão, Índia, Indonésia, Paquistão, Bangladesh e Filipinas (total de 2,24 bilhões de habitantes e absurda densidade populacional), podem estar às vésperas de uma hecatombe inédita e imprevisível, pelo que já se sabe da velocidade de contágio e da letalidade do vírus. Ao contrário dos países ricos, que investiram na realização massiva de testes, esses mais populosos da Ásia fizeram pouquíssimos testes, o que explica a baixa quantidade de casos (pouco mais de 3 mil cada um) que apresentam.

Com um terço da área da China, e população praticamente igual (1,38 bilhão), a Índia tinha 4,3 mil casos (número oficial, dia 6 de abril pela manhã), equivalentes a 5% do total identificado na China (82,6 mil). Ao decretar o isolamento social por 21 dias, o governo indiano o fez de maneira abrupta, sem a antecedência necessária para que a paralisação total do país ocorresse com um mínimo de organização. Com o fechamento de praticamente tudo de repente, conseguiu o contrário do que pretendia: espalhou o contágio para o interior do país, porque as milhões de pessoas pobres que trabalhavam nas grandes cidades se viram obrigadas a voltar para as suas vilas. Significa dizer que é enorme a probabilidade da Índia apresentar uma explosão de casos em meados de abril, a exemplo da que está ocorrendo agora nos Estados Unidos. Quatro vezes maior, se seguir a proporção populacional. Ou muito mais, dada a sua estrutura de saúde, incomparável com a dos Estados Unidos e da China.

Prevendo o tamanho do estrago que ocorrerá principalmente na Ásia e África, o Grupo Banco Mundial tomou a decisão, dia 2 de abril, de investir US$ 160 bilhões nos próximos 15 meses, em assistência de emergência através de operações com governos e empresas, no que denominou ser apenas "o início de um esforço mais amplo" para ajudar os países "a proteger populações pobres e vulneráveis, apoiar as empresas e impulsionar a recuperação econômica". Na Ásia, projetos para viabilizar assistência médica e exames estão sendo destinados para o Afeganistão (US$ 100 milhões), Paquistão (US$ 200 milhões), Mongólia (US$ 26,9 milhões), Camboja (US$ 20 milhões), e a Índia (US$ 1 bilhão). Integrante do Grupo de atuação específica na área privada, a Corporação Financeira Internacional (IFC) deverá emprestar US$ 8 bilhões para empresas visando preservar empregos, sempre priorizando países pobres.

Risco e oportunidade como todas as outras crises, essa tem o diferencial de ter sido subestimada inicialmente por governos de países importantes (Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Japão, México, Índia, Brasil), fato decisivo para a possibilidade de se tornar hecatombe em abril, e o agravante de coincidir com a crise econômica que já se desenhava no horizonte mundial, o que a torna imprevisível em dimensões e efeitos. Ainda assim, as empresas brasileiras que atuam na Ásia, produzindo lá, importando e/ou exportando, precisam refazer logo seus planejamentos, porque as empresas e governos da China estão "a mil" para recuperar o trimestre perdido.

Veja mais notícias sobre CoronavírusMundo.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sábado, 23 Novembro 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br./