Depois de duas paralisações seguidas, B3 desaba quase 15%

Bolsas dos EUA registram pior dia desde o Crash de 1987

A B3 (foto) reabriu os negócios e o Ibovespa acelerou as perdas com uma queda de 17,4%, aos 70.035 pontos pelo menos até por volta de 14h15. Próximo de 14h30, o Ibovespa ensaia uma recuperação com retração de 14,8%, aos 72.490 pontos. O movimento contrário se deu em razão do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, anunciar que fará um programa de oferta de liquidez. No final do pregão, o saldo não foi nada animador: a B3 apresentou baixa de 14,7%, aos 72.582 pontos. É a maior queda desde 1998. No exterior, as bolsas norte-americanas S&P 500 (redução de 27%) e Dow Jones (retração de 28%) tiveram o pior dia desde o Crash de 1987, de acordo com o jornal The New York Times.

Mais cedo a bolsa acionou pela segunda vez no dia o circuit breaker, mecanismo acionado quando as perdas atingem mais de 10%. O índice chegou a cair 15,4%, aos 72.026 pontos. Antes, ao retrair 11,6%, aos 75.247 pontos, o circuit breaker também foi acionado. Esta é a quarta vez na semana que a B3 utiliza o mecanismo. Ontem a B3 apresentou queda de 7,6%, aos 85.171 pontos. É a primeira vez na história que a bolsa brasileira utiliza o mecanismo de circuit breaker três vezes na semana. O dólar fechou o dia subindo 1,4%, a R$ 4,7882, renovando recorde de fechamento nominal (sem considerar a inflação). Na abertura, a moeda norte-americana chegou a valorizar mais de 6% e bateu R$ 5,0277 pela primeira vez na história, atingindo, assim, uma nova máxima nominal intradia já registrada no país. O avanço do dólar em relação ao real chega a 19,4% no ano.

Uma das razões para o prolongamento do pânico foi o pronunciamento do presidente norte-americano, Donald Trump. Ele anunciou a suspensão de todas as viagens da Europa para os Estados Unidos durante 30 dias como forma de "proteger os americanos" do coronavírus. A suspensão passará a valer a partir de sexta-feira (13) à meia-noite, mas não terá validade para o Reino Unido, que continuará tendo voos para os Estados Unidos. As restrições também não têm validade para quem tem residência permanente em território norte-americano. Trump comparou a decisão de suspender os voos da Europa à restrição que os Estados Unidos fizeram de voos vindos da China e do Irã quando a crise do coronavírus começou. Trump criticou a forma como a Europa agiu e disse que o continente deveria ter tomado medidas similares e, com isso, evitado o crescimento do coronavírus no mundo.



Durante o pronunciamento, de mais de nove minutos, Donald Trump também disse que a crise do coronavírus não é financeira e que vai tomar ações de emergência para ajudar os norte-americanos diagnosticados com o vírus, que estejam em quarentena ou que precisem ficar afastados para cuidar de pessoas infectadas. O presidente também pediu que o Congresso norte-americano aprove reduções fiscais com o intuito de ajudar a combater eventuais perdas econômicas que tenham sido causadas pelo vírus.

No ambiente interno pesa o fato do Congresso ter derrubado o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto que aumenta o limite da renda familiar para recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC) foi derrubado. A derrubada do veto começou pelo Senado, com 45 votos contrários, contra 14 favoráveis. Na Câmara, o veto foi derrubado com 302 votos a 137.O BPC é um benefício assistencial equivalente a um salário-mínimo, pago a pessoas com deficiência e idosos partir de 65 anos com até um quarto de salário mínimo de renda familiar per capita.

A lei aprovada no Congresso e vetada por Bolsonaro alterava exatamente o teto da renda, ampliando o número de pessoas aptas a receberem o benefício. Com a derrubada do veto, portanto, o pagamento será feito a famílias com até meio salário mínimo de renda per capita. Contrários à derrubada do veto argumentaram que o Brasil passa por uma crise financeira e que o aumento prejudicaria o orçamento para outras áreas. Até o combate ao coronavírus foi citado. Os parlamentares favoráveis à derrubada do veto consideram injusto o Parlamento querer economizar exatamente na hora de ajudar a população pobre.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quinta-feiraque vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra decisão do Congresso de derrubar o veto à ampliação do BPC. A nova despesa pode aumentar os gastos do governo federal em R$ 20 bilhões, por ano. "Vamos ao Supremo, vamos ao TCU [Tribunal de Contas da União] que tem já casos prévios, argumentando pela lei de responsabilidade fiscal. Você não pode criar R$ 20 bilhões de despesas, sem dizer de onde vem os recursos. É proibido pela lei de responsabilidade fiscal. Não temos a capacidade de executar algo que pode ser ilegal", anunciou o ministro.

Guedes afirmou que a decisão do Congresso é contrária às medidas de ajuste na economia. "[Em meio a] todo o exercício de estabilização que estamos fazendo para a economia começar a retomar o crescimento econômico, daqui a pouco nós vamos conseguir fazer algo que estava completamente fora do script, vamos derrubar o avião que está começando a decolar, está subindo. A economia mundial está em outro avião que está em queda. O nosso está decolando. Nós já ficamos anos em baixo. A nossa avaliação é que se há algum espaço agora é justamente para remanejar o orçamento para prioridades", disse, argumentando que gastos extras devem ser direcionados para casos emergenciais, como os gerados pela crise com o coronavírus.

Para o ministro, a decisão do Congresso influenciou o mercado financeiro. "Ontem aprovamos uma medida à tarde no Congresso, onde nós vamos gastar mais R$ 20 bilhões e isso derruba tudo. Vocês estão vendo, a bolsa caindo, juros subindo. Isso derruba toda a nossa expectativa de manter a correção de rumo que estamos fazendo na economia brasileira. De forma que o próprio presidente da Câmara [Rodrigo Maia] e o presidente do Senado [Davi Alcolumbre] lamentaram a decisão de ontem. E à noite, conversando com o presidente Bolsonaro, ele disse vamos ao Congresso. É hora de união. A saúde do Brasil está acima dessas disputas políticas", disse, referindo-se à reunião na noite de ontem, no Congresso, com parlamentares, o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, para discutir estratégias de combate ao coronavírus.

Petróleo

Os preços do petróleo caíam fortemente nesta quinta-feira (12), após inesperadas restrições a viagens impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma tentativa de parar a disseminação do coronavírus após a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter classificado o surto como uma pandemia. A queda nos preços também é influenciada por uma inundação de oferta barata no mercado após a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos terem afirmado que elevarão a produção em meio a uma disputa com a Rússia. O petróleo Brent recuava 2,48 dólar, ou 6,9%, a US$ 33,31 por barril, às 8:18 (horário de Brasília). O petróleo dos Estados Unidos caía 6,2%, a US$ 30,93 por barril.

"Se a guerra por participação no mercado não for parada, os estoques globais de petróleo ficarão cheios e os preços do Brent vão de novo ser negociados na casa dos 20 dólares até o final do ano", disse o chefe de estratégia em energia da BCA Research, Robert Ryan. Os dois contratos de referência do petróleo caíram cerca de 50% desde máximas tocadas em janeiro. Eles tiveram a maior queda percentual diária desde 1991, com a Guerra do Golfo, na segunda-feira, após a Arábia Saudita ter iniciado a guerra de preços.

O movimento surpreendente de Trump de restringir voos provavelmente significará uma queda maior na demanda por combustível de aviação e outros, em um mercado de petróleo já bastante impactado, embora ainda seja difícil estimar os efeitos da medida.

*Com informações da agência de notícias britânica Reuters

Veja mais notícias sobre Mercado de Capitais.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sábado, 23 Novembro 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br./