O inventor do rádio, nascido no Sul, completa 160 anos
Se estivesse vivo, Padre Landell estaria completando 160 anos nesta quinta-feira (21). Nascido em 1861, em Porto Alegre, foi o primeiro cientista no mundo a transmitir a voz humana pelo ar através de ondas de rádio. E o fez publicamente em pelo menos duas ocasiões que foram documentadas pela imprensa da época:a primeira em 1899, e a segunda no ano seguinte, bem antes das experiências feitas por outros cientistas.
O italiano Guglielmo Marconi, por exemplo, considerado equivocadamente inventor do rádio em vários países, inventou o telégrafo sem fio em 1895, com pontos e traços em código Morse. Ele também transmitiria a voz humana por meio de ondas de rádio em 1914. Ou seja, muito tempo depois. Uma década antes, Landell mesmo com limitações determinadas pela prática religiosa, e precariedade de recursos, já estudava como transmitir imagens e textos por ondas eletromagnéticas – a mesma "estrada" que utilizara para transmitir a voz humana e sons musicais. O mesmo caminho que permitiu evoluir para a criação de diversas invenções "wireless", como o telefone celular.
"Padre Landell realizou a primeira transmissão wireless de voz humana por ondas de rádio da história da humanidade. A proeza aconteceu em 16 de julho de 1899, quando ele era pároco na capela de Santa Cruz, no bairro de Santana, zona norte da capital paulista. Em 3 de junho de 1900, repetiu a experiência ligando o alto de Santana à avenida Paulista, oito quilômetros em linha reta. Ele jamais conseguiu concretizar a última etapa do seu sonho: levantar recursos financeiros para desenvolver e implantar um sistema de rádio no Brasil", rememoram Eduardo Ribeiro, jornalista e diretor da newsletter Jornalistas&Cia, e Hamilton Almeida, jornalista, pesquisador e biógrafo em artigo no jornal Folha de São Paulo.
O jornalista Hamilton Almeida conheceu a história de Landell de antes mesmo de trabalhar no jornal Zero Hora, em Porto Alegre, e sempre se empenhou em buscar informações sobre os esforços do padre-cientista para viabilizar a industrialização do rádio no país, ao mesmo tempo em que projetava, de forma inédita, a televisão e o telex. Sua linha de pesquisa é a mesma que nos levou ao telefone sem fio e ao celular.
Landell lutou bravamente, enquanto pode, patenteou seus inventos tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos, onde morou por alguns anos, mas não conseguiu comercializar os seus inventos. Ele foi ignorado pelas autoridades, ridicularizado por fiéis, que chegaram a invadir e destruir seus experimentos, sob a alegação de que ele tinha parte com o demônio. Landell de Moura acabou falecendo em 1928 no ostracismo.
"O obscurantismo o venceu, mas não conseguiu apagá-lo da memória. Padre Landell é merecedor, pelo seu legado, de sair da condição de personagem à margem da história para ocupar um lugar de destaque na história do rádio e das telecomunicações", afirmam Almeida e Ribeiro ao final do texto que recorda o legado deixado pelo padre-cientista nascido no Sul.
O jornalista Hamilton de Almeida estuda e pesquisa a trajetória de Landell de Moura há 40 anos. Em 2006 publicou Landell de Moura – Um herói sem glória (O brasileiro que inventou o rádio, a TV e o teletipo). Em 2021, depois de novas e extensas pesquisas na Itália e nos Estados Unidos, vai entregar sua obra-prima Padre Landell: o brasileiro que inventou o wireless. A conclusão de Hamilton é que se Landell de Moura tivesse conseguido recursos, o Brasil ocuparia hoje um papel de vanguarda nas telecomunicações. O país teria largado na frente nessa área. No início, seria exportador e não importador de tecnologia, como acabou acontecendo.
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Comentários: 6
Olá!
Parabéns pela matéria.
Este sim é o verdadeiro injustiçado.
A verdade não pode ficar oculta.
Cumprimentos.
Esses e outros injustiçados brasileiros assim como nossa Amazônia injustiçada pelos próprios brasileiros abraçada e explorada pelos estrangeiros...
Estive aqui pois o Estadão publicou na quinta, 28 de julho de 2022, palavras cruzadas perguntando o prenome do cientista considerado inventor do rádio. E deu Guglielmo. Pobre padre, nem o Estadão se lembra dele.
Se o Estadão não publicasse mentira, não seria o Estadão.
Realmente a ignorância e as crendices (nem se pode chamar de fé, pois a fé verdadeira é progressista) nos roubou décadas de progresso tecnológico e humano. Parabéns pela matéria e que o obscurantismo se mantenha longe de nosso país.
É assim que deve morrer os martyres, esquecidos, não esqueçam que ele era padre finalmente, e a glória pertence à Jésus Christo.
Que Deus o tenha na sua misericórdia.