Asterix está órfão
Asterix está órfão. Com a morte do desenhista Albert Uderzo, criador das histórias em quadrinhos com René Goscinny, toda família do intrépido vilarejo gaulês está doravante em mãos de profissionais, e não mais nas de seus idealizadores. Certo de que a força dos personagens vai garantir a longevidade das histórias, agora talvez até mais aceleradas, registro que a descoberta desses quadrinhos me proporcionou imensa alegria.
Quem primeiro me falou deles foi a professora de francês Vera Suassuna. Era uma forma bastante efetiva de ampliar o vocabulário, disse ela. "Os diálogos são divertidos e coloquiais." De fato, a cada página tinha uma risada garantida, além de meia-dúzia de palavras novas, usadas em situações que podiam ser as nossas do dia a dia. Tinha, porém, uma dimensão que talvez escapasse até à ótima professora que Vera foi: a da interculturalidade.
Ora, na sanha de infernizar a vida dos romanos e de reafirmar seu orgulho pátrio e solidariedade, os gauleses corriam mundo munidos de poção mágica e de uma curiosidade ímpar de conhecer os costumes dos anfitriões. Nesse contexto, as idiossincrasias captadas e os clichês normalmente associados a cada povo, eram a base de divertidas situações cheias de aprendizado, especialmente para quem pretendia viajar pelo mundo.
São memoráveis as histórias ambientadas na Suíça, Espanha, Córsega, Egito, Bélgica e, é claro, em Roma. As pitadas interculturais ainda hoje ressoam no pavilhão de minha memória e no de muitos traders com quem trabalhei, que tinham bebido da mesma fonte. Aqui em Paris, mais do que nunca, eu gostaria que o druida Panoramix inventasse o antídoto contra o Covid-19 que tanto entristece as ruas de uma das cidades mais lindas do mundo.
Mais parece, como diziam eles, que o céu nos caiu sobre as cabeças.
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