Logística inadequada pode comprometer competitividade de Santa Catarina
Pela primeira vez em Balneário Camboriú, a Logistique 2024 foi aberta na terça-feira (23) focando na avaliação das rodovias catarinenses e investimentos em logística. O painel "Inovação e infraestrutura: pilares para o crescimento sustentável em Santa Catarina" foi mediado por Beto Martins, secretário de Estado dos Portos, Aeroportos e Ferrovias de Santa Catarina. O painel debateu principalmente os desafios rodoviários do estado e enfatizou a necessidade urgente de investimentos nesse sentido. Conforme Martins, é evidente o impacto que a logística tem no desenvolvimento estadual. "Sociedade organizada e poder público devem debater o assunto juntos. Todas as entidades devem discutir de forma transparente os investimentos para Santa Catarina. Não podemos nos pautar somente em um plano de governo, pois deve existir um plano para o Estado. É nossa responsabilidade enxergar os gargalos e resolver o mais rápido possível, em conjunto" reforçou.
Uma das principais críticas levantadas ao longo do debate foi sobre a capacidade rodoviária de Santa Catarina, que deixa a desejar em comparação com outros estados. A prorrogação da concessão da BR-101 foi um dos temas debatidos durante o encontro. Para Mario Cezar de Aguiar, presidente da Federação das Indústrias do Estado Santa Catarina (Fiesc), é necessário que se altere a forma de pagamento de pedágio para "free flow", que ofereceria uma arrecadação maior – e mais justa, para quem utilizasse a BR – para investimentos mais assertivos na rodovia. "Hoje o grande diferencial da indústria é exatamente a logística. Você pode ter equipe preparada, bons equipamentos, mas se não tiver uma logística adequada, terá um comprometimento da competitividade", avaliou. "Santa Catarina é a sexta economia do Brasil, tem a menor taxa de informalidade do país, referência nacional e mundial. O que pecamos é a falta de competitividade. Nós da Fiesc medimos o índice de competitividade da indústria catarinense e perdemos só pra São Paulo por um décimo. Se tivéssemos uma condição de infraestrutura mais adequada, Santa Catarina seria a indústria mais competitiva do país", completou.
Quem também ressaltou a falta de investimentos na malha rodoviária do estado foi Dagnor Schneider, presidente Federação dos Transportes Rodoviários de Carga do Estado de SC (Fetrancesc). Ele informou que o estado possui apenas 6,6% de suas vias pavimentadas, um dos menores índices do Brasil. "A falta de estrutura rodoviária implica em mais custos com transporte, mais acidentes e mais vidas que se perdem nas estradas. Santa Catarina merece estradas boas para ampliar a fluidez e a capacidade de produção no estado", cobrou. O painel também contou com a participação de Carlos Chiodini, vice-presidente da Câmara Temática Portuária e Hidroviária da Frenlogi, e de Elson Otto, presidente da Federação das Associações Empresariais de SC (Facisc). Otto alertou sobre melhorias urgentes necessárias no estado, como a duplicação da BR-282 e mais celeridade nas obras de duplicação da BR-470, canais fundamentais de escoamento da produção catarinense.
Futuro de Santa Catarina
O secretário da Fazenda Cleverson Siewert foi convidado a falar sobre o desenvolvimento econômico e as perspectivas para o futuro de Santa Catarina. Em sua exposição aos executivos, exportadores, importadores e especialistas do setor, Siewert defendeu que a administração pública pode adotar as mesmas práticas do mundo privado para ser bem-sucedida. Lembrou que a atual gestão assumiu o governo com uma projeção de déficit de quase R$ 3 bilhões, mas reequilibrou o caixa do Estado com medidas voltadas ao corte de gastos e ao incremento de receitas por meio do Plano de Ajuste Fiscal (Pafisc). A gestão encerrou o ano de 2023 com uma economia de aproximadamente R$ 1 bilhão. Foi a primeira vez, em quase duas décadas, que Santa Catarina reduziu as despesas de um ano para o outro (o indicador teve queda de 2,7%). Também foram investidos quase R$ 3 bilhões no ano passado. Esse valor representa 80% a mais do que a média de 2014 até 2020. Os dois anos seguintes foram atípicos, marcados pelas consequências da pandemia, com receitas extraordinárias e temporárias, e que não servem como base de comparação.
Ao falar sobre a gestão das contas públicas e da responsabilidade fiscal, o secretário lembrou que Santa Catarina é o quinto estado que mais envia recursos ao governo federal por meio dos contribuintes que pagam seus impostos. "Somos apenas o 24º que mais recebe, o que faz com que a relação entre o que mandamos e recebemos gire em torno de 10%, contra a média de 140% do Brasil. Ou seja, nós nos resolvemos em casa, com os empresários e o governo estadual fazendo a sua parte. Imaginem se a gente tivesse um pouco mais de apoio? Faríamos ainda mais", analisou. Do outro lado, reforçou o secretário, os resultados de uma administração não se verificam apenas com medidas de contenção de gastos e ajuste fiscal. Siewert demonstrou a importância de se tangibilizar os resultados para a sociedade e direcionar os recursos para obras e programas estruturantes. Citou, entre os exemplos, o mutirão de cirurgias eletivas e os programas Universidade Gratuita e o Estrada Boa, que somente este ano soma R$ 1,4 bilhão em investimentos já liquidados e pagos em melhorias nas rodovias estaduais. Esse valor supera o investimento realizado em 2022 de R$ 1,2 bilhão em infraestrutura e a meta é encerrar 2024 com mais de R$ 2 bilhões em obras realizadas por meio do Estrada Boa. Siewert também citou os planos de uma nova rodovia paralela à BR-101, num trecho que ligaria o Norte de Santa Catarina até a Grande Florianópolis, além do projeto do túnel subaquático entre Itajaí e Navegantes, contemplado no plano de mobilidade para a Foz do Rio Itajaí. "São ações de alto impacto e que tratam do futuro de Santa Catarina. Obras estruturantes que podem mudar nossas matrizes econômicas", observou. A programação do Logistique Summit continua nesta quarta e quinta-feira.
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