Produção de veículos cai 3,5% em fevereiro
Apesar de todos os esforços logísticos feitos pelas montadoras, a produção de veículos ainda não retomou aos níveis de antes da pandemia. Segundo o levantamento mensal da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), fevereiro teve 197 mil unidades produzidas, 3,5% a menos do que no mesmo mês do ano passado e 1,3% abaixo de janeiro. Desde a crise de 2016 não havia um número tão baixo para o mês. O acumulado de 396,7 mil do bimestre é 0,2% maior que o de 2020, mas isso se deve à suspensão das férias coletivas em janeiro deste ano por parte de várias empresas.
Pior do que os gargalos de produção foi o arrefecimento da recuperação no mercado doméstico. Os licenciamentos de 167,4 mil unidades em fevereiro representaram queda de 16,7% sobre o mesmo mês do ano passado, e de 2,2% sobre janeiro deste ano. O acumulado de 394,5 mil do bimestre significa uma retração de 14,2%. Em compensação, as exportações no bimestre estão nos mesmos patamares do ano passado, pouco acima de 58 mil unidades.
A boa notícia de fevereiro vem do setor de caminhões: a produção de 11,8 mil unidades foi 37,9% maior que em janeiro e 29,3% maior que em fevereiro de 2020. No acumulado do ano, os caminhões registram alta de 24,9% na produção, 11,8% nas vendas e 85,9% nas exportações, na comparação com o primeiro bimestre do ano anterior. Parte dos bons resultados é atribuída à força do agronegócio e à ampliação da rede de entregas em domicílio.
Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, o primeiro bimestre não serve de termômetro para o desempenho do ano pois é geralmente o que tem menor ritmo de negócios, mas apresenta alguns elementos que aumentam a preocupação do setor automotivo. "Temos duas crises se agravando. A sanitária é a que mais preocupa, pois vem ceifando cada vez mais vidas de brasileiros. A crise conjuntural, consequência da primeira, vem desorganizando toda a cadeia global de fornecimento e provocando gargalos e paradas cada vez maiores nas fábricas. A tudo isso se soma a fragilidade estrutural do ambiente de negócios no Brasil, que reduz nossa competitividade em nível internacional, e que não vem sendo devidamente atacada pelas várias esferas do poder público. Tudo isso gera um horizonte absolutamente nebuloso para o planejamento estratégico das empresas, e isso vale para todos os setores da economia", alertou Moraes na coletiva acompanhada pelo Portal AMANHÃ.
Ele, no entanto, não crê que as fábricas de automóveis paralisarão em virtude do agravamento da pandemia, pois as plantas seguem protocolos rígidos. Na visão de Moraes, a falta de insumos – principalmente semicondutores – pode ser, sim, o ato que levará ao fechamento temporário de algumas unidades fabris. Moraes criticou o fato de o governo tentar interferir no preço final do diesel e sugeriu que, ao invés disso, o Planalto deveria incentivar a troca de caminhões por autônomos por meio de um programa de renovação de frota. "Eles têm veículos antigos, que gastam mais e, por isso, também são mais afetados com qualquer elevação de preços de combustíveis", afirmou. Ele citou ainda como um exemplo de insegurança jurídica a Medida Provisória que restringiu benefícios para o programa de compra de carros por pessoas com deficiência, o chamado PCD. As restrições foram feitas como um modo de o governo compensar isenção de tributos no gás e no diesel.
Imunização
Preocupada com o ritmo lento da vacinação no Brasil e com os reflexos disso na saúde da população e na economia do país, a Anfavea aderiu em fevereiro ao movimento apartidário Unidos Pela Vacina, criado pelo Grupo Mulheres do Brasil, liderado pela empresária Luiza Helena Trajano. Com a participação da sociedade civil, entidades, empresas, associações e ONGs, o Unidos Pela Vacina tem como meta ajudar no que for possível para que toda a população seja vacinada até o fim de setembro. As associadas da Anfavea estão em contato com várias prefeituras para facilitar apoio logístico de transporte e armazenagem, e também para oferecer as estruturas médicas das fábricas (enfermarias e profissionais de saúde) para campanhas de vacinação.
Moraes defendeu maior velocidade da vacinação no país. "Tem de haver uma meta ambiciosa, com a coordenação de secretarias regionais, como ocorre em outros países. Isso seria melhor vacinar do que gastar com abono emergencial. Mas, agora, infelizmente, temos que gastar", destacou. O presidente da Anfavea recordou que a China, país com população muito maior, tem como meta vacinar 40% de todos os habitantes no primeiro semestre.
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