Anfavea projeta queda de 45% no ano e uma lenta retomada até 2025
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou o balanço da indústria automobilística no primeiro semestre nesta segunda-feira (6). Com fortíssimo impacto da pandemia de Covid-19 nos últimos três meses, a produção acumulada de 729,5 mil veículos representou uma queda de 50,5% na comparação com o primeiro semestre de 2019. Em junho, a produção de 98,7 mil unidades foi 129,1% superior à de maio, mas 57,7% inferior à de junho do ano passado (veja todos os indicadores na Carta da Anfavea, no final desta reportagem). Com esses dados e com base nas expectativas econômicas do país para o segundo semestre, a associação projeta produção de 1,6 milhão de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus neste ano, volume 45% inferior ao de 2019.
"Trata-se de uma estimativa dramática, mas muito realista com base no prolongamento da pandemia no Brasil e na deterioração da atividade econômica e da renda dos consumidores", opinou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. A perspectiva de produção é lastreada num mercado interno projetado de 1.675 milhão de unidades vendidas no ano (queda de 40%) e uma exportação de 200 mil unidades (queda de 53%), além de levar em conta a variação de estoques e as importações de veículos. "A situação geral da indústria automotiva nacional é de uma crise maior que as enfrentadas nos anos 1980, 1990 e essa mais recente de 2015/2016. Ela veio num momento em que as empresas projetavam um crescimento anual de quase 10%. Um recuo dessa magnitude no ano terá impactos duradouros, infelizmente. Nossa expectativa é que apenas em 2025 o setor retorne aos níveis de 2019, ou seja, com atraso de seis anos", projeta Moraes.
O setor de caminhões também foi fortemente afetado pela pandemia, embora as quedas não tenham sido tão drásticas quanto as dos veículos leves. A produção no semestre (34,8 mil) foi 37,2% menor em relação ao mesmo período do ano passado. Os licenciamentos (37,9 mil) recuaram 19,1%, enquanto as exportações (4,8 mil) encolheram 19,2%. Parte do alívio nas vendas de caminhões deve ser creditada aos bons resultados da safra agrícola. Ao comentar os índices menos ruins em relação aos caminhões, Gustavo Bonini – que é diretor de relações institucionais e governamentais da Scania e também vice-presidente da Anfavea – comparou o cenário atual com um resultado falso positivo para a Covid-19. "Assim como no exame para o coronavírus, temos de estar alertas se o resultado apresenta um falso positivo. Ainda é cedo para concluir que o setor de caminhões sofrerá menos, pois a tendência é que ele acompanhe o ritmo da economia. Como há uma previsão de queda do PIB de 7%, o segmento tomará o mesmo caminho. Nos resta esperar para ver se o número será concretizado", alertou o executivo.
O campo também ajudou o setor de máquinas a não sofrer tanto com os efeitos da pandemia. A produção acumulada no semestre (19,1 mil) foi 22,6% inferior à dos seis primeiros meses de 2019. Já as vendas de 19,6 mil máquinas caíram apenas 1,3% no primeiro semestre, enquanto as exportações (4,2 mil) tiveram retração de 31%. Na visão de Alfredo Miguel Neto, vice-presidente da entidade e diretor de Assuntos Corporativos da John Deere para a América Latina, o Plano Safra fará com que o produtor invista em bens de capital, entre eles maquinário agrícola. "Acreditamos que haverá crédito suficiente para atender a demanda e a queda anunciada das taxas de juros para o financiamento foi uma boa notícia", pondera Alfredo Miguel.
Ao responder uma pergunta do Portal AMANHÃ, Moraes revelou que a Anfavea segue debatendo com integrantes do Ministério da Economia formas de monetizar créditos tributários, algo que traria alívio para o caixa das montadoras, mas ainda não há solução para o tema. "Há um claro problema de queda de receitas e o crédito tributário retém impostos por uma distorção do sistema. É como entregar o imposto de renda e a pessoa tivesse recolhido mais do que devia – e se trata da mesma coisa nas empresas. Ao fim e ao cabo, chega ao final do dia e quem financiou o governo foi o setor privado", desabafou. Moraes afirmou ainda que a entidade tem feito propostas para mudanças de lei. Para ele, será vital encontrar uma saída, pois as matrizes das montadoras não devem injetar recursos em suas filiais neste ano.
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