Sinal de alerta
Em 2016, o então presidente mundial da Danone, Emmanuel Faber, se disse preocupado em "como equilibrar o duplo projeto econômico e social da Danone", pois, segundo ele à época, "o que vai produzir resiliência nesse negócio (...) é a noção de justiça social".
Em fins de 2020, incentivado por Faber, o conselho da Danone aprovou torná-la legalmente uma empresa com missão, isto é, com objetivos além do lucro. Em março de 2021, esse mesmo conselho, por pressão dos acionistas, demitiu Faber do cargo.
As duas primeiras iniciativas estão ligadas à terceira? Ou seja, a inclinação do CEO por tornar a Danone uma empresa com propósito foi responsável pelo seu desligamento?
Parece que sim. Sob Faber, a Danone teria deixado de ser uma empresa inovadora e perdido terreno para a rival Nestlé, o que desagradou investidores.
O caso expõe as dificuldades entre conciliar interesses corporativos com outros, de natureza social ou ambiental, recentemente sintetizados na sigla ESG. Por mais impopular que possa parecer, é forçoso reconhecer que esses interesses nem sempre irão coincidir, o que exigirá dos CEOs optar por um ou outro em algum momento.
Talvez o problema esteja nas distorções de que o conceito ESG tem sido alvo recentemente. Pois para quem cunhou o termo há quase 20 anos, o economista James Gifford, a questão é bem mais prática. Segundo ele, o conceito visava simplesmente "incutir uma visão mais financista às questões socioambientais. (...) O ponto central é a incorporação de fatores socioambientais nos investimentos para gerenciar riscos. Não é mais sobre ética" (Exame, 20/01/22).
Tarde demais para Emanuel Faber saber disso, mas a tempo de evitar que outros CEOs percam o emprego levando o novo paradigma – ou simples modismo – tão a sério.
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