O que grandes empreendedores querem que você faça na crise
“Nunca conheci pessimista bem sucedido”, já disse Jorge Paulo Lemann. Na turbulência que vive o Brasil nos últimos tempos, a afirmação não poderia ser mais poderosa. É por isso que em momentos incertos, o empreendedor tem uma certeza: olhar para frente. Esse foi o mote do CEO Summit, um dos maiores eventos de empreendedorismo do país, realizado pela Endeavor Brasil, EY e Sebrae, no dia 22 de outubro. Os destaques foram muitos, garantidos por painéis com nomes como Guilherme Leal e Pedro Passos, co-fundadores da Natura, Jorge Gerdau, da Gerdau, e Constantino Jr, fundador da Gol. Mas quando o assunto é se sair bem na crise, alguns cases e lições resumem bem o tom da conversa. Confira abaixo os conselhos de seis grandes líderes para aproveitar as oportunidades da crise.
“A gente dobra, mas não quebra” – Claudia Sender (TAM)
“Lembro sempre da piadinha: Dois amigos estavam em um safari, um deles avista um leão e diz: ‘Um leão! Vamos embora!’. O outro interrompe a corrida para colocar o tênis e o amigo comenta ‘Tênis? Mas você acha que vai correr mais rápido que o leão?”. Ele responde ‘Não preciso correr mais rápido que o leão, preciso correr mais rápido que você’. Então a gente acredita em ser líder, tendo um mercado diversificado, continuando a investir em entender o que o cliente quer e em trazer isso para ele. No momento de crise, deixar de investir em inovação é garantir que você vai sair dela mais fraco. Menos pessoas estarão voando? Elas voarão conosco. Esse é um momento muito definidor para todas as empresas, não importa o tamanho. Todas as equipes estão olhando para seus líderes para saber como vai ser nossa atitude nesse momento. Nossos clientes também. Se deixarmos de investir, escolherão outra companhia para voar e outros parceiros para fazer negócios. Não adianta ficar só na retranca. O investimento é essencial nas coisas que os nossos clientes valorizam.”
Mar calmo nunca fez bom marinheiro – Guibert Englebienne (Globant)
“Quando o mar está agitado, você precisa ser navegante. Alguns tendem a nem sair para a água. Em tempo de crise, é normal querer ser pequeno e passar pela onda por debaixo. Mas se você tem uma equipe com uma cultura de resolver problemas e consegue encontrar, intrinsecamente, essas forças dentro do time, você enfrenta qualquer coisa. É um processo de nos unirmos, nos desafiarmos e, cada vez mais, aumentarmos nossa ambição para subir um nível. Então um conselho é sair da zona de conforto, buscar as oportunidades e montar equipes sólidas. Por outro lado, tanto oportunidades quanto crises são temporárias. Combinem suas ambições de curto prazo do que se pode fazer na crise com aquilo que vai fazer a empresa ser sustentável. Quando veio a crise na Argentina, foi uma janela de oportunidade. Podíamos ir ao mercado por um preço atrativo e dizer ‘aqui estamos’. Só que sabíamos que, a longo prazo, não seria sustentável ter uma empresa com preços mais baixos que a concorrência. Somado ao fato de que havíamos construído uma credibilidade muito grande com nossos clientes e que rapidamente nos tornamos a empresa da vez para desenvolver muitos dos produtos do Vale do Silício, tudo isso nos fez pensar que tínhamos que ser ‘ultra premium’ – a melhor que poderíamos ser. Nosso objetivo é ser a número 1 do mundo fazendo o que fazemos, e levamos isso muito a sério.”
Pescando talentos – Julia Hartz (Eventbrit)
“Nós começamos a Eventbrite com nosso próprio dinheiro. Tínhamos recursos limitados, jornadas de 24 horas de trabalho e nenhum salário, por um bom tempo. Queríamos tentar algo diferente, apostamos em um mercado de cauda longa e a crise de 2008/2009 trouxe muitos questionamentos se aquela era a decisão certa. Em 2008, ganhamos tração e precisávamos de um time. Começamos a buscar investimento para crescer, mas o desafio era enorme. ‘Conseguimos sobreviver a isso?’, pensávamos. Não fazíamos ideia se ainda estaríamos no mercado dali a um ano. Mas sendo empreendedor, a crise exige uma grande dose de otimismo. Passando pela crise, vimos que muitos talentos incríveis ficaram disponíveis com o fechamento de algumas empresas. Agora, no Vale do Silício, o quadro é totalmente diferente. Consigo enxergar o benefício daquela crise, a disputa por gente boa cresceu e é quase como se todo mundo quisesse uma nova bolha. Se compararmos ao Brasil, é claro que a situação não é a mesma em todos os aspectos, mas esse é um ótimo momento para investir no país e em seus talentos. Temos 25 pessoas aqui e 35 na Argentina. Sabemos que vamos ver retorno no futuro. Nossos colaboradores de maior destaque foram contratados durante a crise. É importante dar oportunidades às pessoas.”
“Animal de barriga cheia não caça” – Jorge Gerdau (Gerdau)
“Prefiro trabalhar em crise que em períodos sem crise. Minha capacidade criativa é maior e sou muito mais demandado. Quando falo isso para os meus amigos, eles brincam “ok, mas ela não precisava ser tão profunda também”. A verdade é que animal de barriga cheia não caça. É impossível não acreditar no Brasil, com todo o potencial que ele tem. Onde está nosso desafio? Ele passa pelo processo político, mas o maior de todos está aqui: a sociedade civil [empresarial ou global] não é ativa o suficiente no enfrentamento dos problemas. As pressões da sociedade, em todos os lugares que são, hoje, democracias estáveis, passaram por lutas e desafios. No mundo, está cheio de exemplo do que já foi resolvido. Não há nada que não tenha uma solução técnica ou que ainda não tenha sido debatido. A solução está na pressão da sociedade civil."
A resposta está na ponta – Flavio Rocha (Riachuelo)
“Há um erro na nossa legislação que atribui inovação à indústria. O que é moderno é fazer inovação no varejo, setor fonteiriço, que deve se incumbir da tarefa de inovar. Um ótimo exemplo é a Apple: a inovação não está lá no engenheiro na China, está no Genius Bar, na fronteira com o cliente, ouvindo dele, prospectando e garimpando dele suas necessidades. O varejo é o elo da cadeia que tem mais potencial de contribuir com a inovação porque ele que está em contato direto com o consumidor. Apesar de todo momento difícil, em 2015 a Riachuelo está cometendo a aventura de quebrar todos os seus recordes de investimento, de Capex. Nunca, em 68 anos de história, nós investimos tanto quanto estamos investindo agora. Isso é uma prova de que a crise, por definição, é um episódio passageiro. Se nós dimensionarmos nossa empresa para a crise, corremos o risco de, logo após a bonança que vem depois da crise, estarmos desambientados para o futuro brilhante que esse país nos promete.”
Horizontalidade e reinvenção – Edgard Corona (Bioritmo/Smart Fit)
“A primeira coisa a se fazer é acertar o cenário. Se a gente acha que ele é ruim, a gente tem de se adaptar para trabalhar nele. A segunda é entender que a vantagem estratégica de qualquer companhia é transitória. Quando a Smart Fit nasceu, não tinha nada parecido. Agora, várias tentam copiar o modelo. Para lidar com isso, você precisa ter uma cultura de reinvenção. Essa cultura passa por entender que erro faz parte do aprendizado, por horizontalizar seu pessoal e seus processos, e por ter uma equipe jovem, criativa e que queira cometer esses erros. Uma das nossas experiências foi a seguinte: estou na academia treinando, esbaforido em cima da esteira, e vem um instrutor perguntar se preciso ajuda, mas eu não quero ajuda. Por outro lado, tem o instrutor que está conversando com a moça bonita e não atende a gente. Como resolver isso? Oras, vamos olhar para um outro mercado. Uma meninada lá na empresa falou: na companhia aérea, o cara aperta o botão para chamar a aeromoça. Vamos colocar um botão em cada máquina, um relógio na mão de cada instrutor. Apertou o botão, máquina 4, instrutor atende. Testamos em duas unidades. O NPS começa a subir, a gente replica para toda a rede. E é assim: olhando para o cliente, entendendo a necessidade do cliente, a gente vai se tornando mais competitivo e menos pesado – porque níveis hierárquicos acabam tornando a empresa mais pesada. Então a gente precisa se reinventar o tempo todo. Isso que faz a crise passar.”
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