BC alerta que grau de incerteza permanece elevado para a economia do Sul
Os indicadores de atividade refletiram a gravidade e difusão do impacto da Covid-19 sobre a economia do Sul. No Boletim Regional, divulgado nesta sexta-feira (14), o Banco Central sugere que abril tenha sido o ápice da crise e dados apontam para desaceleração da queda a partir de maio. "A despeito disso, o grau de incerteza permanece elevado, tendo em vista o estágio ainda crescente da pandemia, diferentemente do que ocorre em outras regiões. Os principais indicadores corroboram os efeitos significativos da pandemia da Covid-19 sobre o nível de atividade. Estatísticas mais tempestivas sugerem a reversão desse processo, evidenciando a retomada de algumas atividades. No entanto, o cenário permanece desafiador, em particular, pelo impacto severo no mercado de trabalho e pelo grau de incerteza ainda presente na economia, em razão do estágio da crise sanitária no Sul", avalia o BC.
O nível de atividade no Sul – medido pelo IBCR-S – recuou 6,8% no trimestre encerrado em maio, na comparação com o finalizado em fevereiro (-0,8%). A autoridade monetária, no entanto, chama a atenção que o fraco desempenho foi condicionado pelos resultados de março (-3,7%) e abril (-7,8%), haja vista o crescimento no último mês (4,4%). "Apesar da melhora na margem, a atividade permanece deprimida – comparativamente a igual intervalo de 2019, o IBCR-S contraiu 7,3%, com resultados negativos para os três meses. Em horizonte mais longo, houve recuo de 1,2% em doze meses até maio, consistindo no primeiro resultado negativo para essa base de comparação desde março de 2017", detalha o documento elaborado pelo BC (acesse o Boletim Regional completo ao final desta reportagem. A análise sobre a região Sul e os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul iniciam na página 53. Sem possuir unidade do Banco Central, o Estado de Santa Catarina não é avaliado individualmente).
No comércio, o volume de vendas, incluídas as automotivas e de material de construção, cresceu 25,7% em maio, após cair 17,2% em março e 9,9% em abril, influenciado, sobretudo, pela retomada nas atividades automotiva, de vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos. No trimestre, houve redução de 16% no volume comercializado, relativamente ao anterior, repercutindo menores vendas em nove das dez atividades pesquisadas (exceto hipermercados e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo).
"Em doze meses, as vendas – que já vinham com tendência de arrefecimento no crescimento – mantiveram-se estáveis em maio, na comparação com igual intervalo anterior (+0,1%). Informações mais recentes da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram o começo de uma recuperação do comércio automotivo na margem", destaca a autoridade monetária. Porém, considerando dados livres de influência sazonal, o licenciamento de veículos e de comerciais – que acumulara retração de 61,2% em março e abril – aumentou 48% no bimestre maio-junho. Mas, a despeito dessa reação, no primeiro semestre foram licenciados 60 mil veículos a menos do que no igual período de 2019.
O Boletim Regional também analisou os dados do mercado de trabalho no Sul. Segundo o BC, números do emprego formal até maio evidenciam o grave impacto da pandemia em todas as atividades, totalizando o fechamento de 313,6 mil vagas com carteira assinada no trimestre encerrado naquele mês, principalmente nas indústrias de vestuário e calçados, serviços de alojamento e alimentação, além do comércio varejista. "O nível de emprego com carteira assinada caiu 2,5% nesse intervalo, em relação ao trimestre anterior. Estatísticas dos pedidos de seguro-desemprego sugerem fim do processo de contração do mercado de trabalho. Comparativo interanual assinalou redução de 11,9% na primeira quinzena de julho, repercutindo quedas nos pedidos de benefícios por trabalhadores de todos os setores, em especial do comércio e da indústria", nota o BC.
O expressivo aumento na demanda por liquidez pelas pessoas jurídicas no início da pandemia impulsionou o mercado de crédito no Sul. O saldo das operações cresceu 3,3% no trimestre encerrado em maio. "Em relação às pessoas físicas, a súbita alteração nos padrões de consumo a partir da segunda quinzena de março resultou em desaceleração generalizada nas modalidades do segmento, com destaque para a queda de 17,8% no saldo do cartão de crédito à vista e a consequente retração de 0,9% no saldo total às famílias. Nesse contexto, a taxa de crescimento interanual dos empréstimos a pessoas físicas recuou de 11,1% em fevereiro para 7,8% em maio", relata o Boletim Regional. Já em relação às empresas, a repentina quebra nas cadeias produtivas elevou a necessidade de recursos para a manutenção de fluxo de caixa. Porém, dados preliminares para junho apontam continuidade desse processo, com crescimento mensal de 0,8% no estoque de crédito.
A análise do Banco Central mostra que a atividade industrial no Sul recuou 22,3% no trimestre finalizado em maio, em relação ao encerrado em fevereiro (0,4%). Com exceção de produtos alimentícios, houve retração em dezessete atividades, sobretudo em veículos, têxteis, vestuário e calçados, e móveis. "Em doze meses, a indústria passou de alta de 2,7% em fevereiro para queda de 5,3%, na comparação com igual período anterior. Estatísticas mais recentes do consumo de energia pela indústria de transformação evidenciaram significativa desaceleração na queda. Considerando a média de cinco dias úteis, a redução na demanda pelo insumo passou de 22,1% no início de abril para 8,8% em junho e 2,9% em 17 de julho, sugerindo recuperação parcial da produção industrial nos próximos meses, destacando o arrefecimento na fabricação de veículos, confecções e artigos do vestuário, produtos de metal e calçados", prevê o documento.
No âmbito fiscal, o resultado primário consolidado dos governos estaduais, das capitais e dos principais municípios do Sul passou de superávit em 2019 para déficit em doze meses até maio, deterioração condicionada, em especial, pela reversão do resultado do Paraná. Nessa base de comparação, a necessidade de financiamento regional ampliou 95,7% – o déficit nominal atingiu R$ 9 bilhões no período. A dívida pública aumentou 3,3%, para R$ 129,2 bilhões, condicionada pela ampliação do endividamento do Rio Grande do Sul, que compôs 78% do estoque regional. A arrecadação de ICMS do Sul totalizou R$ 88,4 bilhões em doze meses até junho. Principal tributo, essa receita foi negativamente impactada pelo menor nível de atividade econômica no primeiro semestre, recuando 4,8% em termos nominais, sobre igual intervalo de 2019.
Por fim, o Banco Central destacou a safra na região. A estimativa de junho para a produção agrícola em 2020, considerando a situação climática desfavorável ocorrida no Rio Grande do Sul na safra de verão, indica colheita de 73,6 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas, 4,7% inferior à obtida no ciclo anterior, especialmente soja e milho, mitigada pela expansão esperada na produção regional de trigo.
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