Apelo às mulheres de 60 anos
Como deve ser característica comum a muitos homens, tenho uma preocupação especial com as mulheres de minha geração. Isso se explica por várias razões. E a principal delas é que nove de dez namoradas que tive tinham praticamente a minha idade. Contrariamente a amigos da fornada de 1958, nunca me senti especialmente atraído pelas muito mais jovens. Na verdade, não lembro de ter tido uma só relação perene com mulheres que não fossem nascidas entre 1957 e 1963. Nenhuma fora desse intervalo se provou sustentável. Não sei a que atribuir esse fetiche geracional, mas foi um fato irrefutável em minha vida. É como se as muito mais velhas ou mais novas pertencessem a outro mundo e, ao cabo de algumas horas, a conexão caísse, como se o sinal estivesse fraco.
É até mesmo pela fidelidade inquestionável às mulheres da faixa dos 60 anos que me sinto à vontade para lhes dizer o quão deploro quando as vejo postar fotos ditas desconstruídas, flagrando-as em momentos de "reconstrução interior", de "despojamento" ou "desejo de mudança". Nessas horas, parecem escolher a dedo os ângulos mais infelizes – e muitas vezes isso é difícil – para expor rugas de expressão e olhos mortiços. É claro que algumas vezes se vê claramente que elas assumem aquele instante como sendo o de uma catarse, de uma libertação dos moldes de uma feminilidade que pode já não fazer sentido. Muitas pela chegada de netos, outras pela sexualidade declinante e um sem número por problemas de saúde. O que é uma pele descuidada afinal diante de um tumor?
Nesse contexto pretensamente libertário, choca ver o que fazem com os cabelos, não raro alvos de mutilação, na linha do quanto mais feios, mais convincente é o resultado. É incrível como eles são o bode expiatório desses pretensos momentos de verdade. E, é claro, espanta também como sabem se vingar dos maus tratos que as donas lhes infringiram. Cortes mal executados, feitos no impulso, resultam em expressões lunáticas, desorbitadas, patéticas e infelizes. Nada há de errado em fazer alguns testes com os fios brancos. E até mesmo em assumi-los brancos na totalidade, se eles resistirem ao teste do espelho. Mas um passo desses pede um mínimo de critério. E convém acautelar-se contra a opinião de amigas que vão dar força e elogiar o gesto, e, no íntimo, deplorar o resultado.
É claro que muita gente vai me acusar de machismo inveterado e de apontar em minhas considerações o viés viciado do nordestino retrógrado para quem as mulheres precisam estar embonecadas para agradar. Nada de mais distante da verdade, já vou assegurando. A última coisa que me atrai no mundo é mulher enfeitada, cheia de lantejoulas e reluzindo feito árvore de Natal. Quando alerto contra a tentação quase suicida de se sabotar a que algumas cedem em nome de uma "interiorização" libertária, é porque ela engendra círculos viciosos. O desinteresse sexual leva a que fiquem sexualmente desinteressantes. E assim aumentam as possibilidades de que a profecia se cumpra e que elas se vejam relegadas a papéis decorativos, perdendo o fulgor que já foi tão seu para gravitar na periferia alheia.
Nunca é demais lembrar que não está escrito em lugar nenhum que uma mulher se aproxima mais do nirvana se estiver irremediavelmente feia – algumas ainda não o conseguem totalmente, ainda bem. Tampouco que estarão mais aptas a alçar um nível superior de espiritualidade se mutilarem os cabelos. Assim a tal elevação seria muito fácil. Em suma, não adianta antecipar um desgaste que o tempo por si só se encarregará de trazer. Por fim, é claro que minhas considerações dizem respeito ao universo das pessoas que conheci direta ou indiretamente. Não ousei fazer alegações genéricas que contemplassem mulheres que precisam lutar pela sobrevivência material ou que sejam arrimos de família. Tentei falar aqui às mulheres que têm a opção de não se anular tão cedo para os encantos da vida. Resistam.
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