Padre: uma carreira desafiadora
Chaves é uma pequena cidade ao norte de Portugal e faz fronteira direta com Verín, na Espanha. Ambas compartilham o conceito de Eurocidade, ou seja, as municipalidades vão atrás de competências complementares já que os moradores podem usufruir na vizinha dos serviços não disponíveis na sua localidade de origem. Trata-se, portanto, de uma fronteira viva, integrada. Chaves é também famosa em Portugal pelo presunto e pelas termas que, no passado, fizeram a delícia dos romanos que ali deixaram uma bela ponte. Mas vamos ao que me chamou a atenção recentemente.
Passando pela matriz, não resisti a fazer uma visita. As igrejas portuguesas são bonitas, muitas com azulejos e altares de madeira entalhada. Ora, da tranquilidade da rua, mal pude adivinhar que ali se desenrolava a missa. Achei um lugarzinho e prestei atenção ao que dizia o padre. Ele falava da crise de vocações e de paróquias abandonadas por conta de falta de sacerdotes. Exortava as famílias a que olhassem seus rapazes e procurassem identificar sinais de espiritualidade elevada ou de algum chamamento para a vida religiosa. Se constatado, o emprego estava garantido.
Num tom de confidente, disse que o seminário de Vila Real conta com apenas 17 estudantes. E que o do Porto, 11. Ora, como suprir a demanda se cada cidade portuguesa tem um templo? Sei que ninguém vai ser padre como mera opção de carreira. Mas vejamos: a empregadora é uma multinacional. Vive-se bem embora o trabalho exija devoção e austeridade. Há, ademais, um plano de carreira reconhecido e o ocupante do topo é mundialmente respeitado. Gente é o principal foco. Liderança é um atributo tão apreciado quanto o conhecimento de idiomas e há um bônus perpétuo e intangível à espera dos mais aplicados.
Ora, em outro contexto, poderíamos pensar que se tratava de um recrutamento de cervejaria, dessas que tiram do profissional tudo mediante a contrapartida do reconhecimento e da riqueza. Eis um caminho que deveria ser mais propagado entre os jovens aspirantes a bônus mais duradouros do que as glórias efêmeras do dinheiro. O ambiente de trabalho não pode ser mais saudável; as paisagens são deslumbrantes; não se paga imposto de renda; não falta uma galinha gorda na casa de uma beata e o calendário do ano é assinalado por festividades em que o diálogo, a música e o bem são valorizados.
Se de vez em quando surge uma polêmica, pergunto: que empresa está imune a elas? Volkswagen, Petrobras? Ademais, pensei, se pode conviver com a alma feminina sob uma perspectiva menos desgastante. Pena que para mim seja tarde.
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