Previdência e cenário externo contribuíram para queda do risco-país
Indicador que mede o apetite dos investidores estrangeiros na economia, o risco-país fechou esta terça-feira (23) em 127 pontos. No menor nível desde 2014, o índice voltou nesta semana ao patamar de quando o governo brasileiro tinha grau de investimento (selo internacional de bom pagador). O valor está abaixo até de países da Europa, como a Itália (162 pontos).
Segundo Alexandre Espírito Santo, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e economista da Órama Distribuidora de Valores, uma combinação de fatores internos e externos levou à queda do risco-país nas últimas semanas. Além da aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, ele destaca a provável redução de juros pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano como fator que tem ajudado o Brasil. “O Fed está com tendência, na verdade quase certeza, de redução de juros. É algo que não estava no radar até três, quatro meses atrás. Isso é bom para mercados emergentes em geral. A liquidez [dinheiro em circulação] internacional continua alta. Nesse sentido, os investidores estão mais propensos a tomarem risco, ajudando na redução de riscos para países emergentes como o Brasil”, observa o economista.
Em relação à reforma da Previdência, Espírito Santo afirma que os investidores estão otimistas porque a economia estimada de R$ 933,5 bilhões nos próximos dez anos favorece o reequilíbrio das contas públicas no médio prazo. Ele também considera importante as articulações para o Senado reincluir estados e municípios numa proposta paralela porque a medida deve gerar economia adicional de R$ 350 bilhões. “Os agentes econômicos se baseiam em expectativas. Tudo indica que reforma passa em segundo turno [na Câmara dos Deputados] no início de agosto. Pode ser que haja uma PEC [proposta de emenda à Constituição] paralela para resgatar estados e municípios. Isso reduz ainda mais o risco porque tem muito estado com problemas mais graves na Previdência que a própria União”, declara.
Outro fator que tem pressionado para baixo o risco-país, segundo ele, é a estimativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduza a taxa Selic (juros básicos da economia) na reunião da próxima semana. Desde março do ano passado, a Selic está em 6,5% ao ano, no menor nível da história. Mas o indicador pode cair ainda mais com a aprovação da reforma da Previdência. “O Copom deve retomar o processo de queda interrompido lá para trás. Quatro quedas de 0,25 ponto nas quatro reuniões restantes no ano reduzirão a Selic para 5,5% ao ano. Isso dá um juro real [juros acima da inflação] de 2% ao ano. Essa é uma realidade que a gente não conhece e que deve favorecer bastante a recuperação do crescimento em 2020”, contextualiza.
Definido como a diferença entre as taxas dos títulos do governo brasileiro de cinco anos negociadas no exterior e as taxas dos papéis equivalentes do Tesouro norte-americano, considerados os papéis mais seguros do mundo, o risco-país mede a aversão dos investidores estrangeiros em aplicar recursos no país. Quanto maior o risco, mais altos são os juros pedidos pelos investidores internacionais. Portanto, maior o risco-país. Em setembro do ano passado, o indicador estava em 307 pontos. Isso significa que os títulos brasileiros de cinco anos no exterior pagavam 3,07 pontos percentuais de juros a mais que os papéis do Tesouro norte-americano. De lá para cá, o indicador recuou 58,6%. Em 2019, o maior nível do risco foi registrado em 28 de março (187 pontos).
Segundo o professor do Ibmec, o indicador deve estabilizar-se nessa faixa e não deve cair mais nas próximas semanas. “O nível de risco está adequado para o momento. Não vejo caindo muito mais, porém esse patamar sugere que o mercado externo está olhando o Brasil com bons olhos”, pondera. Ele acredita ser provável que as agências de classificação de risco melhorem a perspectiva da nota da dívida pública brasileira antes do fim do ano, indicando a possibilidade de a nota do país subir em 2020. Apesar da queda recente, o risco do Brasil ainda está mais alto que o de outros países da América Latina que lançam títulos públicos no mercado internacional. O risco país fechou esta terça em 111 pontos para o México, 81 pontos para a Colômbia e 35 pontos para o Chile. No continente, apenas Argentina (875 pontos) e Venezuela (72.150 pontos) têm risco-país mais elevado que o brasileiro.
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