Para você dar o nome II
Continuamos com as lições da crise política. Leia o primeiro post aqui.
5. Nenhum dos problemas arrolados de 1 a 4 seria suficiente para colocar Dilma Rousseff no olho da rua não fosse a quantidade elevada de erros e malfeitos que ela e o PT deixaram pelo caminho nesses quase 14 anos. Até o mais ferrenho governista há de reconhecer que, se os fatos foram buscados a posteriori para embasar o impeachment, encontrá-los não foi nada difícil, uma vez que o legado econômico e gerencial do Dilmismo é péssimo. O conjunto da obra foi decisivo para vergar Collor e Dilma; ninguém impicha presidente por causa de um Fiat Elba ou de manobras contábeis, tão somente. Daí a Lição 5: as partes riscam o fósforo, mas é o todo que incendeia a casa. O aumento da passagem de ônibus virou uma insurreição gigante em junho de 2013, contra tudo e contra todos. Como motivos não faltavam, os protestos saíram do controle. Numa empresa, a rebeldia de uma equipe ou o êxodo de profissionais pode ocorrer através de mecanismo semelhante.
6. Lição 6: às vezes, perder é ganhar. Se Aécio Neves fosse presidente hoje, o PT estaria deitando e rolando na oposição, montado em uma crise econômica fabricada pelos petistas, mas que estouraria em colo tucano. Nada mau, em se tratando de política. Até mesmo o impeachment pode não ter sido de todo ruim para o PT, que terá sempre à mão a narrativa do golpe e encontrará, em 2018, cenário econômico mais favorável para colocar Lula novamente como candidato. Dificilmente as condições sob Dilma II seriam favoráveis ao partido daqui a dois anos.
7. Lição 7: não existe lei, existe interpretação da lei – e, esta, claro, varia conforme as crenças, personalidade e interesses de quem a interpreta. Não conte com o Direito como instância principal para resolver problemas que podem ser abordados pela negociação.
8. Lição 8: não deixe o craque do time no banco de reservas esperando o momento ideal de usá-lo, pois pode ser tarde demais. Lula deveria ter virado ministro ano passado, não agora.
9. Nona lição: não semeie o ódio entre seus adversários ou desafetos gratuitamente. Entre 1992 e 2002, o PT ingressou com 50 pedidos de impeachment contra Collor, Itamar e FHC (veja aqui). Para quê, se estavam obviamente fadados ao arquivamento? Na única vez que deixaram o flanco aberto, veio o troco – e agora não adianta chamar de golpe aquilo com o qual se sonhou para o adversário tantas e tantas vezes.
Ah, sim, e para terminar: como eu definiria tudo o que aconteceu? Opto por golpeachment. Que tal?
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