Investimento alemão no Brasil em compasso de espera
Na reunião-almoço da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha em Porto Alegre, o presidente da seção gaúcha da entidade, Marcus Coester, dirigiu uma provocação ao palestrante, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel (foto). “O governo do presidente Bolsonaro está fazendo uma aproximação intensa do Brasil com os Estados Unidos. Embaixador, a Alemanha vai ficar olhando?”
O riso na plateia não impressionou Witschel, que acabara de discursar com informalidade e bom humor. E, também, com objetividade.
– Eu vejo a aproximação do Brasil com os Estados Unidos como uma coisa positiva para a Alemanha e para o ambiente de negócios em geral, porque são países que compartilham de valores semelhantes. Mas se a decisão for de uma aproximação “apenas” com Estados Unidos, eu diria que não é algo bom. Sempre é melhor ter parceiros em todo o mundo.
Witschell, que brincou com o seu português cheio de sotaque, não se apertou em nenhum momento para transmitir com clareza percepções sobre o Brasil. Mostrou-se otimista, elogiando o legado econômico do governo Temer de corte consistente na taxa de juros, redução da inflação, reforma trabalhista e aprovação da lei que estabelece o teto dos gastos públicos. Nestes primeiros meses da gestão de Jair Bolsonaro, vê como positivo estabelecimento da reforma tributária como a prioridade número 1 (“sem isso, o Brasil se tornará um país instável e caminhando para a falência”), além de saudar os esforços de equipe econômica, que ele considera competente, na direção de uma reforma tributária. “Mais do que reduzir impostos, a reforma é importante para que o sistema tributário seja mais simples, porque nem um batalhão de juristas consegue dar para as empresas segurança, certeza, sobre as regras.”
A Bolsonaro, recomendou foco na reforma da Previdência e a esquiva de polêmicas e conflitos “desnecessários” – ou, em uma síntese que arrancou risos, menos tuítes. Disse que a narrativa petista contra o impeachment de Dilma e os ataques da esquerda brasileira a Bolsonaro colocaram uma parte significativa da opinião pública alemã em uma postura de crítica e descrença em relação ao novo governo. Mas, por outro lado, descreveu Witschel, o sentimento entre empresários alemães com interesse no Brasil é de boas expectativas.
– Eu acho que as besteiras que foram ditas na campanha eleitoral, tanto a favor como contra Bolsonaro, não se confirmaram. A economia não teve a reação forte e rápida que muitos esperavam com a vitória dele, mas também não houve decisão do governo brasileiro de se retirar do Acordo de Paris, nem de deixar o Conselho de Direitos Humanos da ONU, nem de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
Ao mencionar a desaceleração da economia alemã, que deve crescer apenas 0,7% do PIB este ano, o embaixador Georg Witschel enumerou os grandes focos de tensão para a Alemanha e a Europa de um modo geral: uma saída britânica da União Europeia sem um acordo que atenue os efeitos do Brexit para ambas as partes, e a deflagração de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China. “Essa guerra seria uma disputa perde-perde. Se acontecer, ninguém vai ganhar nada com isso.” Para o Brasil, recomendou que as prioridades sejam, pela ordem, reforma da previdência, reforma tributária, investimentos em infraestrutura e em educação. “Eu sou um otimista. E estou otimista com o Brasil”, sustentou o embaixador de 57 anos que tem formação em direito internacional e desde 2016 comanda a embaixada em Brasília.
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