Brasil: a desconstrução de uma noção

Já não existe o país que me empolgava
Quem não tiver amarras de ordem profissional ou familiar com o Brasil, sente-se alforriado para levar a vida do jeito que quiser

De Paris (França )

Não, não. O título não está errado. Não é que quisesse dizer nação, e tenha digitado noção. Mesmo porque a nação brasileira, bem ou mal, está viva. E se está hibernada, a hora chegará em que se reconstituirá – por esfrangalhada que possa estar, como ocorre em alguns países.

Falava mesmo de noção. Já não existe o Brasil que me empolgava. E não me entendam mal, pois não pretendo atribuir culpas a este ou àquele, ao capitão ou ao general, ao corrupto ou ao achacador. Chego a achar que a culpa me compete, e fui eu que não me atualizei a contento.

Quatro fatores concorrem para que se calcifique esse tipo de sentimento.

a) O Brasil para mim é um país hostil, onde a pessoa precisa andar de olho nas sombras para não ser engolido por uma cena da violência urbana, por uma falha de navegação de GPS que o leve a lugares onde seja visto como estranho e/ou recebido à bala;

b) A animosidade política de forma geral transforma quaisquer ambientes em fortemente tóxicos. A questão das filiações e simpatias partidárias desidrata da seiva os bons debates de antigamente. A cultura média das pessoas despencou e a chance de esbarrar na ignorância é maior;

c) É mínima a possibilidade de ver o país sair dessa fase "em construção" em meu tempo de vida. Com o agravamento propiciado pela conjuntura mundial, e em razão dos retrocessos registrados, o Brasil não será uma nação inclusiva e solidária sequer nos próximos 15 anos;

d) O mundo oferece opções de qualidade de vida pessoal e cultural bem mais aprazíveis a um custo mais moderado. Quem não tiver amarras de ordem profissional ou familiar com o país, sente-se alforriado para levar a vida do jeito que quiser. Às vezes cito o sabido hino: "o afeto que se encerra..."

Não é amargura, é constatação mesmo.

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Comentários: 1

José Carlos Fortunato em Quarta, 22 Julho 2020 14:20

Concordo com a visão do Fernando. De certa forma, vejo com muito ceticismo o nosso futuro, a se levar em conta que não temos um grande projeto de país, mesmo sendo uma nação grande territorialmente e população idem. Sem uma grande liderança e sem ambição para nos colocar de forma respeitosa junto com outros grandes. Parece que estamos fadados a ficar no time do meio.

Concordo com a visão do Fernando. De certa forma, vejo com muito ceticismo o nosso futuro, a se levar em conta que não temos um grande projeto de país, mesmo sendo uma nação grande territorialmente e população idem. Sem uma grande liderança e sem ambição para nos colocar de forma respeitosa junto com outros grandes. Parece que estamos fadados a ficar no time do meio.
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