2015 está ruim? Esqueça 2016
Mais uma vez o relatório Focus revelado na segunda-feira (22) mostrou uma revisão para baixo na atividade econômica brasileira não somente para 2015, mas também para 2016. O mesmo fez nesta quarta-feira (24) o Banco Central ao anunciar o Relatório da Inflação. Agora, a estimativa de retração do PIB é de 1,1% (leia mais detalhes aqui). Porém, ainda para o ano que vem, a expectativa é de uma leve alta na atividade: variação positiva de 0,7% ao ano, o que não deixa de ser uma recuperação diante de uma contração de 1,4% prevista para esse ano pelo mercado.
Os economistas Ricardo Tadeu Martins e Cristiano de Barros Caris, da Planner Corretora, destacam que, como a atividade econômica neste ano está dada – ou seja, daqui até dezembro os números não melhoram –, o que o brasileiro assistirá será o varejo recompondo estoques e trabalhando no limite da necessidade e, por consequência, a indústria se ajustando a essa demanda. Segundo eles, os números melhores que poderão aparecer serão em função da base comparativa que começará a ser considerada quando da desaceleração mais forte a partir do segundo semestre de 2014. Porém, não há motivo para ânimo: 2016 deve ir praticamente pelo mesmo caminho deste ano. Destacando a pesquisa Focus da semana passada, quando os economistas previam crescimento de 0,9% do PIB em 2016, eles destacam que já há economistas prevendo crescimento de apenas 0,3%.
"Como pode-se observar, o pessimismo está sendo vencido", avaliam os economistas da Planner, destacando que o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15) veio acima do esperado (0,99% em junho ante topo das estimativas de 0,88%), assim como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Enquanto o mercado esperava fechamento médio de 50,6 mil postos de trabalho, foram fechadas 115,6 mil vagas, com destaque para o setor industrial (-60,9 mil). Além disso, o IBC-Br apontou desaceleração da atividade econômica brasileira de 0,84% em abril. Nesse caso, se esperava retração média de 0,4% e máxima de 0,68%.
"O ideal nesse cenário seria uma desvalorização maior do real, levando ao aumento da produção nacional e o escoamento via mercado internacional, com consequente melhora da balança comercial. Desse modo, mesmo que o BC não renove parte dos contratos de swap cambial, o que permitiria esse cenário, a atratividade da taxa de juros tem feito brecar esse movimento", afirmam os economistas da Planner.
Para o diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, está claro que o atual conjunto de medidas do governo não ressuscita a economia extremamente deteriorada que o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff deixou para os próximos quatros anos. Ao mesmo tempo, afirma Nehme, o ajuste fiscal e o realinhamento dos preços administrados "não encontra a economia em condições de responder aos anseios do governo, provocando uma expressiva retração que já coloca em absoluta dúvida o alcance da meta de superávit fiscal. Isso coloca o país em risco de perda do grau de investimento, mesmo que venha a revisar a meta para projeção inferior à comprometida".
Dessa forma, acredita Nehme, em uma economia que não responde as ambições do governo, a tendência enorme era de que “o remédio se transformasse em veneno”. "É exatamente isso que estamos vivenciando nessa fase em que a percepção indica que tudo pode piorar – o que só leva a se intensificar a perda de confiança e antever um período de recessão", afirma. Na visão do economista, os empresários estão mais propensos a desinvestir ao invés de investir. Assim, o desemprego faz com que a renda dos assalariados caia. Nesse cenário, a inflação continua se acentuando de forma pesada, o que diminui o consumo das famílias num ambiente que também já sinaliza a redução dos salários.
O Focus mostrou o IPCA para o final do ano elevando a projeção para 8,97%. Contudo, Nehme destaca que a inflação está subestimada, pois leva a crer que fechará o ano acima desse índice. Mais uma vez a regressão da atividade industrial deve ser acentuada com a elevação da taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 14,25% ao ano, decisão antecipada pelo mercado para a próxima reunião do Copom no final de julho.
Além disso, há o impacto da alta da Selic sobre as contas públicas. Quando houve o último aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a dívida interna foi elevada em R$ 11 bilhões, o que pode levar ao aumento da dívida pública e enfraquecer as premissas para que o Brasil continue com grau de investimento. Em meio a tantas dificuldades, a expectativa fica por conta da redução da meta fiscal, de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,6%. O novo patamar teria sido sinalizado pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, fato que foi negado em entrevista posteriormente. "Ainda é precipitado fazer qualquer movimento em relação à meta. Não adianta querer tirar o sofá da sala. Tem uma série de ações que vamos ter de tomar. Vamos fazer uma avaliação normal [da programação orçamentária] e estamos tomando as medidas necessárias, com bastante transparência e segurança”, declarou Levy.
Situação externa
Ao mesmo tempo, a Planner destaca que o Federal Open Market Committee (Fomc) sinalizou que aguarda orientação do conjunto de indicadores para elevar sua taxa básica. A aposta gira em torno de um juste de 0,25 ponto percentual em setembro. Porém, há dúvida com relação a esse movimento já que a contração do PIB americano no primeiro trimestre teve pouca influência do clima, trazendo como consequência a forte retração do investimento do setor de petróleo, greve de portos e efeitos do câmbio mais valorizado.
Por fim, há a questão chinesa. A economia do país que também poderia amenizar a retração da atividade econômica brasileira apresentou crescimento de 6,1% na produção industrial, quando comparado a maio de 2014. Apesar de estar em linha com as expectativas, é fraco considerando os padrões passados. "Aqui cabe uma ressalva de que o mercado parece nunca admitir e tomar isso como bons números. Ou seja, mesmo com as constantes desacelerações os números chineses são enormes e tendo uma base constantemente maior. Numa base 1.000, um crescimento de 12% desacelerando 2% ao ano até 6%, significa um crescimento médio de 8,9%, tendo essa base evoluído para 1.409. É uma base muito alta. Sabemos que a China vem tendo problemas que merecem atenção, mas seu crescimento continua adicionando um substancial valor ao PIB", afirmam os economistas Ricardo Tadeu Martins e Cristiano de Barros Caris, da Planner Corretora.
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