Farsul vê mais dúvidas que certezas em 2021
A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) alertou nesta quarta-feira (9) para a necessidade de fazer reformas no Brasil para enfrentar dois grandes problemas: crescimento abaixo da média mundial e graves problemas fiscais. Apenas até outubro, o déficit primário era de R$ 692,8 bilhões. Esse resultado reflete o fato de o Brasil ter sido um dos países que mais gastou na pandemia - as despesas públicas cresceram 42,7% até outubro – ao mesmo tempo que perdeu 9,8% em receitas neste ano. A crise também elevou a dívida pública para R$ 3,9 trilhões, fazendo com que o governo federal gastasse, apenas até outubro deste ano, R$ 251,2 bilhões em juros nominais.
O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, adverte para os desdobramentos desse descontrole das contas públicas, que incluem hiperinflação, novos desequilíbrios cambiais e dificuldade para a rolagem da dívida. "A primeira reforma a ser feita deve ser a administrativa, pois há um conjunto de privilégios para o funcionalismo público. Se isso já era discutível em uma situação normal, agora essas benesses se tornaram eticamente inaceitáveis com o quadro econômico agravado pela pandemia", cobrou Luz.
Para o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, 2021 apresenta mais dúvidas que certezas, principalmente em relação ao equilíbrio fiscal das contas públicas, como também o dólar. Pereira lembrou da recente projeção feita por Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander. Segundo ela, se o governo não conseguir dar uma demonstração clara sobre como vai endereçar a questão da dívida pública, a moeda norte-americana poderá atingir a cotação de R$ 6,70. Caso contrário, o valor será bem menor: R$ 4,60.
"Não saber quanto o dólar valerá traz incerteza ao produtor rural que não saberá qual será o preço dos seus produtos", argumentou Pereira. O cenário político também preocupa o executivo. "O Centrão não tem um histórico que nos dê tranquilidade. Além do mais, haverá disputa pela presidência da Câmara e do Senado. Caso as reformas não ganhem velocidade, teremos um cenário bastante complexo, inclusive com inflação em alta", sublinhou Pereira. Luz emendou dizendo que, inclusive, que existe uma inflação generalizada no país, pois o aumento de preços vai muito além do grupo de alimentação e bebidas. "O IPCA anunciado ontem pelo IBGE já tirou o índice do centro da meta, logo, começaremos 2021 com uma inflação aquecida", declarou.
Safra 2020/2021
O Rio Grande do Sul deve aumentar em 28,4% a produção de grãos na safra 2020/2021, com uma colheita estimada em 33,9 milhões de toneladas. A projeção da Farsul indica uma recuperação parcial após o ciclo frustrado do ano passado, quando uma severa estiagem atingiu o solo gaúcho e deixou prejuízo de mais de 8 milhões de toneladas no campo.
Por um lado, a soja deve aumentar a produção em 75,8% (19,8 milhões de toneladas), volume inclusive acima da safra 2018/2019. Mas por outro, o milho deve sofrer com uma segunda seca em sequência e ter resultados ainda piores do que no ano passado. A falta de chuva no início do desenvolvimento do grão, principalmente na região Noroeste, tende a reduzir a produção para somente 3 milhões de toneladas, 28% menos em relação à safra anterior e 47% abaixo de 2018/2019.
O Sistema Farsul ainda estima alta de 15,3% no volume de trigo no próximo ano, enquanto o arroz deve registrar queda de 3,4% depois do recorde de produtividade da safra passada. No geral, os produtores devem colher em torno de 2% a menos do que em 2018/2019, mesmo com uma evolução de 6,6% na área plantada no mesmo período. Apenas em 2020/2021, a expansão das lavouras deve chegar a 3%, puxada pelas lavouras de soja, milho, arroz e trigo. Na safra passada, a área plantada já havia subido 3,5%, com destaque para as culturas de inverno, indicando melhor aproveitamento do espaço já ocupado no verão.
Pereira enalteceu os agricultores gaúchos. "O produtor está acreditando como nunca na sua atividade. Não vivemos desse passado recente, mas da perspectiva de mercado para 2021, que é excelente para todos os produtos do agronegócio", avalia. Mas o dirigente também cobra soluções para destravar investimentos em irrigação em situações de clima adverso.
Segundo Luz, o prejuízo econômico da estiagem em 2019/2020 foi pior para o Rio Grande do Sul do que em outras secas históricas, em 2005 e 2012. "Perdemos mais de 8 milhões de toneladas, em boa medida porque não podemos irrigar, e assim deixamos de gerar crescimento, PIB e empregos", advertiu. Mesmo assim, houve aumento de área plantada no ano seguinte, o que mostra um setor "resiliente" que destoa do ambiente econômico no geral. "Infelizmente, não teremos esse esforço recompensado com safra recorde, porque perdemos de novo no milho", desabafou.
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